Prefeitos da Rede ICLEI participam de debate regional sobre recuperação verde

Organizado pelo Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e a Energia, o evento contou com a participação de autoridades locais de nove países da América Latina

26 de mar de 2021

Crédito: Px Here

Os impactos causados pela pandemia da Covid-19 atingem o mundo inteiro e, particularmente, a América Latina de forma mais intensa, devido às desigualdades sociais e econômicas existentes na região. Por este motivo, a recuperação econômica e social é uma das grandes preocupações de 2021 para os governos locais que enfrentam esta crise sanitária.

 

Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) corroboram com essa situação: a economia latino-americana contraiu 7,7% em 2020. Uma previsão feita pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas indica que a recuperação esperada para 2021, de 4,7 %, pouco compensará as perdas de 2020. Ainda de acordo com a CEPAL, a pobreza, que vinha diminuindo há décadas na região, voltou a subir mais de 10%.

 

Questões relacionadas a diversos temas afetam as cidades durante o período de confinamento. O transporte público urbano, por exemplo, teve sua capacidade reduzida em alguns casos para menos de 30%, causando prejuízo financeiro para o setor de transporte. Por outro lado, em algumas cidades o céu voltou a ficar azul graças à diminuição da mobilidade e à redução das emissões poluentes e de CO² na atmosfera derivadas de modais que utilizam combustível fóssil.

 

Em um cenário de desafios econômicos crescentes, existem muitas oportunidades para empregos verdes na América Latina, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em 10 anos, projeta-se que 15 milhões de empregos verdes sejam criados e os esforços para estabelecê-los serão vitais para uma recuperação justa e verde.

 

Para refletir sobre este contexto regional, foi realizado no dia 24/03 o evento “Recuperação Verde na América Latina”, organizado pelo Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e a Energia, com a participação de prefeitos e prefeitas de cidades de nove países da região, além de especialistas na temática.

 

O evento, que teve apoio do ICLEI América do Sul, da C40 Cities e da União Europeia no Peru, foi liderado pelo prefeito de Lima, Jorge Muñoz. A capital peruana foi um dos seis governos locais da Rede ICLEI a participar do evento, ao lado de Montevidéu (Uruguai), Serra Talhada (Brasil), Medellín e Área Metropolitana do Vale do Aburrá (Colômbia) e Santa Fé (Argentina).

 

Na abertura do evento, Muñoz reforçou a necessidade de uma recuperação verde não apenas para contornar os impactos sociais da pandemia, mas também para enfrentar as consequências da emergência climática na qualidade de vida da população. “É preciso frear a crise climática e seus efeitos negativos nas pessoas, espécies e ecossistemas. A América Latina e o Caribe são regiões altamente vulneráveis e propensas aos desastres climáticos. É necessário que as autoridades ajam com rapidez e combatam essa crise com resiliência em seus territórios,  com o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva e próspera”, afirma.

 

Jorge Muñoz, prefeito de Lima

 

Associada ao ICLEI desde 2018, Lima possui um plano local climático que se compromete a atingir a neutralidade de carbono até 2050, assegurando a construção de uma cidade sustentável. “Recuperamos espaços públicos e verdes através de uma economia circular. Nesta emergência mundial, não devemos deixar ninguém para trás, tendo como meta os objetivos da Agenda 2030 e as ODS”, observa Muñoz.

 

A prefeita de Montevidéu, Carolina Cassé, defendeu que as cidades possuem um forte papel na recuperação verde e relembrou que a capital uruguaia, associada ao ICLEI desde 2007, tem uma longa trajetória de compromisso com o meio ambiente. “Nossas medidas municipais estão alinhadas com as indicações científicas. Estamos desenvolvendo um plano que intercala a agenda verde com oportunidades de trabalho, apoiando as mulheres e o sistema de saúde”, aponta Cossé. 

 

A prefeita destacou a implementação de novas medidas na gestão de resíduos e manutenção de espaços públicos, construindo uma mudança cultural necessária para que sejamos mais solidários. “Cuidar dos outros é também cuidar do meio ambiente. A agenda verde traz impacto na vida cotidiana, onde a solidariedade e a cooperação devem ser protagonistas.”

 

Carolina Cossé, prefeita de Montevidéu

 

Prefeito de Santa Fé e membro do Comitê Executivo Regional do ICLEI América do Sul (RexCom), Emilio Jatón acredita que as autoridades locais têm a obrigação de colocar a desigualdade na agenda, buscando soluções convergentes e ação conjunta para solucionar este problema.

 

“A única forma de mudar as coisas é mudar a forma de vê-las. Em Santa Fé, a interação entre as questões social e urbana é uma prioridade, fortalecendo o compromisso de lutar contra a pobreza e desigualdade.” Jatón citou o longo trabalho da cidade, que se associou ao ICLEI em 2018, nas temáticas de vulnerabilidade hídrica e de resiliência, incorporando tecnologia na infraestrutura urbana. 

 

Emilio Jatón, prefeito de Santa Fé

 

Também integrante do RexCom para a América do Sul, Juan David Palacio, diretor da Área Metropolitana do Vale do Aburrá, apresentou a rota de trabalho Futuro Sostenible 2020-2023, com foco em tecnologia e mobilidade em busca de melhores condições de vida e de meio ambiente na região.

 

“Está é uma agenda de recuperação verde e de aporte de serviços ecossistêmicos ao nosso território, inclusive com o plano de plantar um milhão de árvores até 2023. A água faz parte de nosso patrimônio, é preciso cuidar e gerar consciência em relação a ela, além de estimular a conectividade ecológica funcional e a criação de espaços públicos verdes.”

 

Juan David Palacio, diretor da Área Metropolitana do Vale do Aburrá

 

A secretária de Meio Ambiente de Medellín, Diana María Montoya, apresentou os avanços da cidade no que tange à qualidade do ar e saúde pública. Associada ao ICLEI desde 2013, Medellín possui 22 estações que permitem recolher informações sobre a concentração de contaminantes e o comportamento de variantes meteorológicas. 

 

Hoje a cidade possui um índice de qualidade do ar que mostra o grau de pureza e contaminação atmosférica do território. Pesquisas recentes mostram que 91% da poluição atmosférica de Medellín vem de fontes móveis, sendo 37% especificamente de caminhões. “Ratificamos em 2020 o Pacto pela Qualidade do Ar, que busca envolver atores públicos e privados na construção de estratégias para melhorarmos a qualidade de nosso ar”, afirma Montoya. 

 

Apresentação de Diana María Montoya, secretária de Meio Ambiente de Medellín

 

Por fim, para falar sobre transição energética, a cidade escolhida foi a mais recente associada ao ICLEI na região: Serra Talhada, localizada no interior de Pernambuco. 

 

Em 2020 o município publicou seu primeiro Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa e iniciou a modernização de seu parque de iluminação pública, implementando a tecnologia LED em mais de 5.000 pontos de iluminação e semáforos, tornando-o mais eficiente, além de promover incentivos à geração de energia limpa. Para 2021 estão previstos a elaboração de um Plano Local de Ação Climática, a criação de uma unidade municipal de conservação e a implementação de coleta seletiva.

 

A prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado, apresenta as ações climáticas da cidade

 

A prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado, lembrou que a cidade está inserida em uma zona de alto risco – a Caatinga, um dos biomas mais ameaçados pela emergência climática – e reforçou que as políticas relacionadas à defesa do meio ambiente serão centrais em seu governo. Além de se associar ao ICLEI, a cidade também aderiu recentemente à ACA Brasil, aliança pela ação climática no território brasileiro. 

 

“Reforçamos nosso comprometimento com a causa ambiental. Estamos dando os primeiros passos para que os pequenos gestos do cotidiano possam reverter os danos causados ao clima. Esse é um tempo de escolha e de decisões”, encerrou a prefeita.

 

Confira o evento na íntegra: