Compilando dados exclusivos do Google relativos à fontes de emissões de gases de efeito estufa nos ambientes urbanos, a plataforma Environmental Insights Explorer (EIE) foi apresentada ao público brasileiro no dia 24/08, em um treinamento aberto realizado pelo ICLEI América do Sul, através do projeto Action Fund Brazil.
Além de medir as emissões, a EIE também ajuda a identificar estratégias locais para a sua redução, com o objetivo de auxiliar a sociedade a construir um mundo mais resiliente, sustentável e próspero.
“A hora de agir é agora. Esses dados empoderam as pessoas e organizações que querem participar desse movimento”, afirma Patrícia Castro, especialista em medição e atribuição do Google e representante do Comitê de Sustentabilidade da empresa de tecnologia no Brasil.
Ela lembra que mais de 70% das emissões globais de CO²e (gás carbônico equivalente) são provenientes de cidades e ressalta a importância das políticas públicas serem capazes de modificar essa realidade. “O acesso à dados ainda é caro e limitado. O EIE agrega informações de maneira gratuita para as cidades que querem se comprometer com o meio ambiente.”
Atualmente, a plataforma disponibiliza publicamente dados de cinco cidades sul-americanas (Curitiba, Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte, no Brasil, e Buenos Aires, na Argentina). A EIE disponibiliza uma estimativa de emissões de construções e da atividade anual de transporte, além de identificar oportunidades para a redução de emissões de CO²e. “Os dados do Google Maps conseguem estimar a quantidade de energia que os edifícios usam e as emissões resultantes disso. Também é possível fazer uma customização para adaptar os dados a uma situação regional”, explica Castro.
Um dos destaques do EIE é a possibilidade de medir a incidência diária de energia solar em uma determinada área, dependendo de fatores como local, formato e inclinação do telhado. “A partir disso, conseguimos levantar o potencial solar de alguns telhados, buscando entender o quão viável é essa solução para aquela região.”
Durante o evento, transmitido no YouTube do ICLEI América do Sul, Castro respondeu a diversas dúvidas e perguntas dos participantes, inclusive sobre o melhor método para a inclusão de dados no EIE de qualquer cidade interessada. Confira a seguir a íntegra do treinamento:
Parceria entre ICLEI América do Sul e Google.org, o Action Fund Brazil irá beneficiar até quatro organizações sem fins lucrativos para executar projetos de impacto e inovadores em Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). Os projetos deverão utilizar dados públicos, como os do EIE, e dialogar com as estratégias climáticas locais.
Convidados a falar sobre essas estratégias, o treinamento contou com a presença da secretária de Meio Ambiente de Curitiba, Marilza Dias, e do secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Porto Alegre, Germano Bremm.
Curitiba: “A sociedade precisa aderir a essa transformação”
Marilza Dias, secretária de Meio Ambiente de Curitiba, falou sobre a trajetória do planejamento climático da capital paranaense desde 2009, com a criação do Fórum de Mudanças Climáticas, a elaboração de inventários de emissões e avaliações de riscos climáticos, a adesão ao programa Urban-LEDS II e ao Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e a Energia (GCoM-LAC), entre outros.
Esse processo culminará, em 2021, com a implementação do Plano de Ação Climática do município, elaborado pela C40 com o apoio do ICLEI América do Sul.
A secretária falou também sobre o perfil de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) de Curitiba e sobre os pilares necessários para o planejamento climático. “A sociedade precisa aderir a essa transformação, senão não teremos resultados”, afirma Dias.
Nesse sentido, a secretaria realizou uma consulta online, entre junho e julho, com um questionário sobre a mudança do clima. Mais de 650 cidadãos participaram da consulta e mais de 90% deles afirma que tem percebido mudanças no clima de Curitiba.
“O fato de a população ter acesso a uma ferramenta de dados abertos é muito importante para entenderem o quanto as atividades que desenvolvem representam em emissões, tanto as que causam impacto como as que o reduzem”, reflete Dias, que está otimista com o projeto Action Fund Brazil. “É importante estimular engajamento e participação nessa temática e possibilitar que organizações sem fins lucrativos tenham condições de apoiar as ações necessárias de combate à mudança do clima.”
Porto Alegre: “Estamos construindo uma cidade para pessoas”
O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Porto Alegre, Germano Bremm, lista como principais desafios ambientais da cidade a redução de emissões nos setores de transportes, resíduos e energia estacionária.
“Como os maiores emissores são os veículos, invertemos a lógica de cidades para carros e estamos construindo uma cidade para pessoas”, afirma Bremm, citando ações de estímulo à mobilidade ativa e priorização do transporte coletivo.
Em janeiro deste ano, uma lei complementar instituiu a Política Municipal de Sustentabilidade, Enfrentamento das Mudanças Climáticas e Uso Racional da Energia. Já em julho, o governo local apresentou a Política Municipal de Logística Reversa, que legisla sobre o descarte e destinação de embalagens, lâmpadas, pilhas, baterias, eletrônicos, pneus e medicamentos. “É uma oportunidade de compartilhar a responsabilidade com a indústria e os produtores de resíduos.”
Bremm ressalta ainda a preservação de 21 mil metros quadrados de áreas verdes públicas na capital gaúcha, o plantio de 1.865 mudas de árvores que será realizado neste segundo semestre de 2020, e a PPP da Iluminação Pública, que em 20 anos substituirá 100 mil pontos de iluminação por lâmpadas de LED, que duram mais e geram menos resíduos.
Destaque internacional
“Tanto Curitiba quanto Porto Alegre são cidades com destaque internacional nas dimensões de planejamento urbano e inserção de critérios de sustentabilidade e clima em suas dinâmicas urbanas”, afirma o secretário executivo do ICLEI América do Sul, Rodrigo Perpétuo.
Com inscrições abertas até o dia 06/09, o Action Fund Brazil apoiará oportunidades para pensar e agir com inovação e criatividade, em prol de cidades mais sustentáveis e melhores para se viver. “A expectativa é muito grande para a implementação das iniciativas, movimentando a sociedade civil em harmonia com as políticas públicas fomentadas e organizadas pelo governo local”, finaliza Perpétuo.