Apesar de representar apenas 16% da área terrestre do planeta, a América Latina e o Caribe possuem 40% da diversidade biológica do mundo. Além disso, mais de 30% de água doce disponível na Terra e quase 50% das florestas tropicais são encontradas na região, que também possui uma ampla variedade de ecossistemas terrestres de água doce, costeira e marinha, contendo algumas das mais ricas coleções de aves, mamíferos, plantas e anfíbios.
No entanto, os recursos naturais da região estão gravemente ameaçados. De acordo com a WWF, América Central e América do Sul perderam 89% de suas populações de mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios. Em 2017, quatro dos 10 países com a maior perda de cobertura de árvores tropicais estão nessa região.
De acordo com especialistas, o uso sustentável do capital natural será de vital importância para enfrentar as emergências do clima e encontrar soluções nos territórios.
A segunda rodada da série de encontros “Conversas Climáticas”, organizada pela Low Carbon City com o apoio do ICLEI América do Sul e do Territorios Sostenibles, aconteceu nesta quarta-feira (29/07), e tratou do panorama atual da biodiversidade e do capital natural no contexto da emergência do clima. O evento também mostrou exemplos de como é possível utilizar os serviços dos ecossistemas de capital natural em prol do desenvolvimento regenerativo e sustentável.
A conversa contou com a participação de Oliver Hillel, oficial de programa no secretariado da Convenção sobre a Diversidade Biológica. Em sua fala de abertura, Hillel frisou a necessidade de os governos estabelecerem uma recuperação econômica verde e justa para o período pós-crise sanitária importa pela pandemia da Covid-19.
“Vivemos hoje várias emergências. Estamos perdendo em ritmo alto toda a biodiversidade. Hoje, não existem mais insetos, corais e passarinhos que haviam quando eu nasci. Os estudos evidenciam que cada um desses seres tem um valor incrível para a economia. O capital natural é tudo o que temos na natureza para depois se transformar na economia, mas o problema é que estamos abusando disso.”
O oficial de programa usou um termo atual para defender o uso de soluções baseadas na natureza. “Há dois bilhões de anos a natureza vem hackeando soluções com bilhões de espécies. Portanto, as suas soluções são as melhores, e quando protegemos a natureza as nossas respostas também serão melhores”, observa.
Para ele, o estabelecimento de territórios sustentáveis é a melhor solução para combinar as três temáticas propostas pelo encontro. “Investir na natureza gera saúde. Precisamos ter espaços verdes não apenas ao redor das cidades, mas principalmente dentro dela, tendo a natureza imiscuída no tecido urbano.”
O secretario executivo do ICLEI América do Sul, Rodrigo Perpétuo, também participou do evento. Segundo ele, é necessário romper com a falta, predominante no século 20, de que natureza e prosperidade são antagônicas. “Cada vez mais é preciso perceber a natureza com um valor econômico, integrado à dinâmica do consumo, permitindo um desenvolvimento socioambiental nos territórios.”
Sophia Picarelli, gerente de Mudança do Clima e Biodiversidade do ICLEI América do Sul, afirma que muitos governos já notaram a importância de incorporar soluções baseadas na natureza nas estratégias de desenvolvimento locais. “Os desafios globais afetam os territórios. Se não compreendermos quais são essas complexidades e como elas refletem no dia a dia do território, vamos seguir intensificando esses problemas”, aponta.
Assista a íntegra do segundo encontro do “Conversas Climáticas”: