Comemorado em 22 de março, o Dia Mundial da Água foi criado em 1992 pela Organização das Nações Unidas com o objetivo de reforçar a importância vital deste recurso natural. Atualmente, no entanto, o fornecimento natural de água corre sérios riscos devido a diversos fatores, como a má utilização, os hábitos de consumo exagerados e, em muitos casos, uma gestão problemática do seu uso no território urbano.
Nas últimas décadas, as cidades têm sofrido consequências desse mau uso da água, como longos períodos de seca e estiagem, falta de acesso à saneamento básico, baixa qualidade da água e enchentes recorrentes, impactando diretamente a qualidade de vida da população.
Neste sentido, o ICLEI aproveita esta data celebrativa para destacar a ação de um de seus associados na América do Sul, o Instituto Espinhaço, que vem trabalhando intensamente para recuperar as florestas e regenerar as águas da região da Serra do Espinhaço, no interior de Minas Gerais.
Lançado em 2015, o projeto “Semeando Florestas, Colhendo Águas” vem recuperando áreas degradadas e contribuindo com a conservação de matas nativas, fortalecendo o combate à emergência climática ao reduzir a concentração de CO² na atmosfera. Até o momento, o projeto já plantou cerca de 3,5 milhões de árvores em uma região que abrange 117 municípios e, acima de tudo, está recuperando a bacia hidrográfica da Serra do Espinhaço.
O diretor administrativo do Instituto Espinhaço, Felipe Xavier, afirma que todo o trabalho do projeto está focado na reabilitação de áreas degradadas para que voltem a produzir água de qualidade. “A recomposição vegetativa e a conservação do solo são processos voltados para a recuperação de fontes de abastecimento público de água, como mananciais, aquíferos e nascentes”, observa.
De acordo com o Índice Mineiro de Vulnerabilidade Climática (IMVC), mais de cinco milhões de pessoas são diretamente afetadas pela crise climática em Minas Gerais – ou seja, quase de 25% da população do estado. Ainda segundo o estudo, mais da metade dos 853 municípios mineiros têm baixa capacidade de se adaptar às alterações do clima e a seus efeitos; 78% têm alta sensibilidade a essas mudanças; e 15% estão em áreas de vulnerabilidade extrema.
“O nome do projeto não é apenas simbólico”, afirma Xavier. “A ideia é que possamos produzir água com mais qualidade e também em maior quantidade, buscando recursos financeiros para que possamos cuidar dos solos e das matas, e também da biodiversidade e fauna. Assim, a médio e longo prazo aumentaremos tanto a quantidade como a qualidade da água.”
O projeto “Semeando Florestas, Colhendo Águas” venceu recentemente o Prêmio Hugo de Werneck, considerado o Oscar da ecologia, na categoria Melhor Exemplo em Biodiversidade – Água. Para além do trabalho de recuperação hídrica e florestas, a iniciativa realiza um trabalho de mobilização socioambiental com a população da região, através de processos de educação ambiental sobre temas como uso do solo e manejo de áreas rurais, estimulando tanto a produtividade dos agricultores locais quanto a proteção ambiental.
“Se não há um bom condicionamento do solo, ele será prejudicado e vai influenciar na qualidade da água. Qual será a consequência para a população? Quanto mais conscientização sobre isso, melhores serão os resultados dessa mobilização”, aponta Xavier.
“A degradação do solo impacta na qualidade da água, e precisamos estancar essa torneira. O Brasil é o país que mais produz água doce no mundo. O campo fornece alimento para a área urbana – mas não é apenas alimento. O campo produz água também.”
O Instituto Espinhaço é associado ao ICLEI desde 2018. Na visão de Xavier, as pautas urbanas e rurais estão territorialmente separadas, mas tem uma relação de sinergia e de dependência. “Contribuímos obviamente para o desenvolvimento urbano sustentável ao produzir água para as cidades, comprovando como as nascentes que estão sendo recuperadas impactam inclusive na produção de melhores e mais saudáveis alimentos.”
O ICLEI acredita que a integração de Soluções Baseadas na Natureza (SbN) ao planejamento urbano oferece benefícios diversos para o aumento da biodiversidade em áreas urbanas, entre eles o apoio na gestão e tratamento das águas pluviais e residuais e a melhoria na qualidade de água. “Não há ação que desenvolvamos que não esteja associada à pauta urbana”, finaliza Xavier.