Com 7 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia se estende por nove países (Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa) e representa mais da metade das florestas tropicais remanescentes no planeta.
Ao todo, o território compreende a maior biodiversidade em uma floresta tropical no mundo e é fundamental para impedir o avanço da crise climática, já que seus rios respondem por quase um quinto da água doce que deságua nos oceanos, e a umidade de parte da Bacia Amazônica atinge e regula o clima de países como a Argentina e Uruguai. No entanto, à medida que as florestas são queimadas e o processo de aquecimento global é intensificado, o desmatamento da Amazônia pode destruir processos ecológicos que levaram anos para serem construídos.
Para fortalecer o debate e a conscientização sobre este assunto, a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia) e a Fundação para a Sustentabilidade da Amazônia (FAS) realizaram na última semana a mesa de debate Amazon Day, que aconteceu paralelamente à COP 26.
Dividido em 4 painéis, o evento reuniu virtualmente especialistas da América do Sul e de outras regiões do mundo que atuam na região amazônica para compartilhar e discutir suas visões sobre o tema, assim como desafios e caminhos para garantir a conservação da Amazônia (área e diversidade).
“Enquanto organização que une diferentes governos locais e lida com associações, o ICLEI América do Sul tenta conectar oportunidades sustentáveis do mundo todo para a implementação nos territórios. Como exemplo, estamos envolvidos em duas iniciativas para fortalecer a união entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico na região amazônica”, afirmou Rodrigo Corradi, secretário executivo adjunto do ICLEI América do Sul, durante o evento.
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil (1995-2003), destacou que fortalecer a forma de reflorestamento da Amazônia pode levar à construção de uma sociedade inclusiva e à uma economia verde. “A questão da mudança que devemos proporcionar tem que ter como objetivo a inclusão da população amazônica na vida econômica da região, para melhorar a vida das pessoas que moram naquele território” complementou, por meio de um vídeo enviado ao evento.
Desafios e soluções
Economia verde, ameaças à biodiversidade, estratégias e soluções adotadas para o desenvolvimento de uma agenda comum na Amazônia, que levem em consideração as circunstâncias causadas pela pandemia de Covid-19, foram os principais destaques dos debates.
Representantes de organizações internacionais que trabalham com desenvolvimento sustentável, economia verde e conservação, financiadores, investidores, entre outros atores, buscaram entender as correlações entre a crise institucional e os avanços nas ilegalidades que ameaçam a Amazônia, a biodiversidade e os direitos humanos para pensarem em estratégias de enfrentamento a estas pressões.
Para Tomas Lovejoy, professor universitário da George Mason University, é preciso operar em dois níveis: na preservação e fortalecimento do reflorestamento da região, e no entendimento do que está sendo desenvolvido na Amazônia. “A agenda está mudando e deve seguir para o nível das políticas econômicas. É maravilhoso ver o que já está acontecendo em termos de infraestrutura e reflorestamento”, destacou.
Entre os desafios, especialistas destacaram os financiamentos necessários para garantir a implementação de ações sociais na região, como a criação de uma cadeia de suprimentos que alcance todos os Estados da região amazônica e tire as pessoas da pobreza. “De maneira geral, os governos locais conseguem ver as oportunidades financeiras, mas é preciso avançar no entendimento de como isso se conecta às necessidades de infraestrutura resiliente nas cidades. Neste sentido, fomentamos atividades entre as capitais brasileiras da Amazônia para elevar a conexão entre essas pautas”, explicou Corradi.
O painel também deu luz à importância de os governos locais se unirem na construção de planos e políticas públicas integradas, que reconheçam as dificuldades e diferenças da população amazônica. O objetivo é promover ações para garantir o desmatamento zero, a geração de emprego, infraestrutura básica e o fortalecimento da tecnologia e inovação como formas de impulsionar a economia verde.
“Precisamos fortalecer a conexão em diferentes níveis – nacionais e subnacionais, assim como criar novas fontes de financiamento e estruturas que serão duráveis em diferentes governos. É preciso criar modelos mais adaptáveis, conhecendo as especificidades de cada território, além de fortalecer a conscientização sobre a economia de base, conhecida como bioeconomia”, afirmou Colleen Scanlan Lyons, diretora de projeto na Força Tarefa de Governadores para o Clima e Florestas (GCF).
Caminhos e soluções sustentáveis
A importância de priorizar as necessidades da população indígena também foi destacada no debate. Cada painel foi encerrado com a apresentação de vídeos curtos de soluções de membros locais, com curadoria da Plataforma de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Liderada pela SDSN Amazônia, as soluções apresentadas envolvem tecnologias e projetos inovadores, pesquisa, modelos de negócios, mecanismos institucionais, modelos educacionais e instrumentos de políticas que podem acelerar o caminho do desenvolvimento sustentável.
Collen reforçou também que “o ICLEI e a GCF buscam criar estratégias para construir pontes entre os governos, para que os mesmos possam estabelecer e cumprir suas metas sustentáveis e dar apoio às administrações futuras”. A diretora também ressaltou a importância de fortalecer diferentes parcerias governamentais e o envolvimento da sociedade civil para a construção de uma agenda eficiente de economia verde.
O ICLEI América do Sul na Amazônia
Comprometido com o desenvolvimento sustentável, o ICLEI América do Sul vem ampliando a atuação na região amazônica desde 2019. Além de estreitar o relacionamento com atores e governos locais, desenvolve as seguintes iniciativas:
- Fórum de Cidades Pan-Amazônicas: Lançado em 2020, o Fórum de Cidades Pan-Amazônicas (FCPA) é um processo multi-ator que fomenta o diálogo horizontal e a troca de conhecimentos e experiências entre governos locais da região amazônica. Em uma parceria entre o ICLEI, a WayCarbon e a Fundação Konrad Adenauer, por meio do Programa Regional de Segurança Energética e Mudanças Climáticas (EKLA), o FCPA reúne representantes das pastas de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável de cidades amazônicas do Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
- Amazônia pelo Clima: Projeto realizado em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS), busca incrementar o acesso a financiamento para a ação climática local na região da Amazônia Legal brasileira. Iniciada em junho, a iniciativa parte de um diagnóstico de que poucas cidades amazônicas possuem recursos para estruturar uma agenda de adaptação e mitigação climática. O objetivo é reverter esse cenário, criando um espaço de diálogo entre governos locais e instituições financeiras atuantes na região.
➡ Clique aqui e acompanhe a íntegra do debate: bit.ly/31T102G