No começo do mês de julho, o Brasil perdeu um importante ator do movimento ambientalista, um de seus mais experientes e aguerridos ativistas na preservação do meio ambiente. O ex-deputado Alfredo Sirkis, 69 anos, não sobreviveu a um acidente de carro no Rio de Janeiro.
Jornalista, escritor, roteirista de TV e cinema, gestor ambiental e urbanístico e ex-parlamentar, são algumas das profissões que podem ser usadas para descrever sua atuação incansável em prol de um mundo melhor.
Fundador do Partido Verde, Sirkis era o atual diretor executivo do Centro Brasil no Clima (CBC). Entre outubro de 2016 e maio de 2019 foi coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), no qual organizou a campanha Ratifica Já!, que propiciou a ratificação, pelo Brasil, do Acordo de Paris. Quando deputado federal (2011-2015), presidiu a Comissão Mista de Mudança do Clima do Congresso Nacional (CMMC) e foi um dos vice-presidentes da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Sirkis foi ainda vereador em quatro mandatos, secretário municipal de urbanismo, presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), entre 2001 e 2006, e secretário municipal de meio ambiente no Rio de Janeiro, entre 1993 e 1996. Foi membro da delegação brasileira nas conferências do Clima de Montreal, Bali, Copenhagen, Durban, Varsóvia, Lima, Paris, Marrakech e Bonn.
Durante sua trajetória política, quando assumiu o cargo de Secretário do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, na década de 1990, Sirkis entrou em contato com o trabalho do ICLEI e desempenhou um papel fundamental na articulação que trouxe a organização ao Brasil.
“Na época o trabalho de compartilhamento de informações e estudos de casos entre os membros da rede era feito via fax ou correio. A troca com as outras cidades foi essencial para o projeto da ciclovia carioca, a menina dos olhos dele”, lembra Patrícia Kranz, que trabalhou com Sirkis como assessora internacional da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e junto dele também desempenhou um papel-chave na associação da cidade à Rede, mais tarde vindo a se tornar presidente do conselho do ICLEI América do Sul.
Em agosto deste ano, Sirkis assumiria seu primeiro mandato como conselheiro consultivo.
Localista convicto, com firme crença no potencial do poder local, Sirkis trabalhou em prol de ações ambientais locais articuladas que reverberam nas questões globais. Era conhecido pelo bom trânsito com políticos dos mais variados espectros. Não à toa, no último 26 de julho, recebeu uma emocionante homenagem do ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore, durante o encerramento do treinamento global do Climate Reality Project.
Durante a homenagem, Al Gore apresentou o novo nome da premiação que reconhece, anualmente, o membro do Climate Reality Leaders Corps de maior destaque. Agora, o prêmio será conhecido como: The Alfredo Sirkis Memorial Green Ring Awards.
Dias após sua morte, o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella, assinou decreto que altera o nome da Ciclovia do Leblon para Ciclovia Alfredo Sirkis. Localizada na Zona Sul, a ciclovia foi inaugurada em 1991 e faz parte da Malha Cicloviária do Rio, a terceira maior do Brasil, com cerca de 460 km de extensão.
Como sua última contribuição, Sirkis lançou o livro “Descarbonário”. Concluída 40 anos depois do clássico “Os Carbonários”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1981, a obra traz uma narrativa ágil, com muitos relatos do que o autor testemunhou de mais relevante como político e ambientalista. “Descarbonário” é centrado no tema preferido de Sirkis: a descarbonização da atmosfera como forma de combater as mudanças climáticas. Segundo ele, a transição para baixo carbono será forte dinamizadora da economia e geradora de empregos.
Descanse em paz, guerreiro Descarbonário!