por Dal Marcondes
Já se foi o tempo dos diagnósticos em relação ao planeta Terra. Quando algumas pessoas equivocadamente se referem à luta ambiental como necessária para “salvar o planeta” se expressa um grande equívoco. O planeta não precisa ser salvo, o que precisamos salvar é sua capacidade de seguir resiliente frente aos desatinos e desmandos da humanidade.
Desde os anos 1960 os sinais de que o meio ambiente está em perigo começaram a soar. Em 1962 Rachel Carson publica “Primavera Silenciosa”, sobre os efeitos dos agroquímicos, em especial o DDT, sobre a fauna e os seres humanos. É considerado uma das pedras fundamentais do ambientalismo. Em 1972 os especialistas do Clube de Roma publicam “Os limites do crescimento”, uma modelagem do impacto do rápido crescimento populacional sobre os recursos naturais da Terra.
Os diagnósticos de que algo não vai bem no terceiro planeta seguiram dando alertas. Em 1987 a médica e ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland publica o relatório “Nosso Futuro Comum”, que explicita a necessidade de uma solidariedade intergeracional. Que as atuais gerações devem garantir que as pessoas do futuro tenham também os recursos necessários para sua sobrevivência na Terra. Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ou Eco-92), representantes de 179 países assinaram a Agenda 21, um documento que aponta para a necessidade de cooperação global para a construção de uma sociedade planetária sustentável.
Ainda em 1992, em um evento paralelo da Eco-92, a primeira versão da Carta da Terra foi elaborada. Após uma ampla discussão da minuta inicial em todos os continentes por milhares de pessoas, a Carta da Terra foi lançada no ano 2000 no Palácio da Paz em Haia, capital da Holanda, com os princípios de solidariedade e harmonia que deveriam nortear a construção do futuro da humanidade sobre o planeta.
Em 2000 a ONU lançou os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com metas para melhorar a qualidade de vida e a governança global até 2015. Neste mesmo ano todos os 193 países membros da ONU adotaram formalmente a Agenda 2030 com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e suas 169 metas. Uma aposta para a melhoria da governança planetária até 2030.
Não bastassem esses alertas e acordos, a partir da Eco-92 foram realizadas dezenas de COPs (Conferências das Partes) sobre Mudanças Climáticas, Biodiversidade, Camada de Ozônio (Protocolo de Montreal), Oceanos e outros temas relevantes para a segurança e bem estar da biosfera. Mesmo com todos esses alertas, tratados, protocolos e todo tipo de conferências, o planeta Terra segue sendo vilipendiado por uma espécie incapaz de reconhecer seus limites.
Depois de todas as eras geológicas pelas quais a Terra passou em seus bilhões de anos, agora chegou a vez do Antropoceno, um termo formulado por Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química de 1995, que define a humanidade como a principal força transformadora do planeta. As atividades humanas estão degradando, de forma assustadora, todos os biomas da Terra e deixando marcas e detritos que impactam sobre a vida de todas as outras espécies. A humanidade é hoje o principal fator de extinção de espécies no ar, na água e no solo.
Não há mais necessidade de diagnósticos, todos estão feitos, e os prognósticos não são bons.
No Dia da Terra as pessoas precisam compreender que o planeta Terra não precisa de nós humanos, somos nós que precisamos dele. A continuarmos nessa trilha de destruição em algum momento o planeta se livra de nós e segue seu caminho pelos bilhões de anos à frente. A pandemia que atravessamos deveria servir como o alerta definitivo de que a natureza tem mecanismos de defesa, e está disposta a usá-los.
Devemos agradecer e venerar esse pequeno planeta azul, nosso lar nesse imenso universo.
Dal Marcondes é jornalista, diretor da Agência Envolverde, especialista em meio ambiente, mestre em modelagem de negócios digitais e conselheiro do ICLEI América do Sul.