Em 2019, o Brasil lançou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e).
A informação, revelado no dia 6 de novembro com o lançamento da oitava edição do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), demonstra um crescimento de 9,6% nas emissões brasileiras de gases de efeito estufa, se comparado ao ano anterior (1,98 bilhão de toneladas brutas).
O dado sugere que o país não deverá cumprir a meta da PNMC (Política Nacional sobre Mudança do Clima) em 2020. “Estamos em uma contramão perigosa. Desde 2010, ano de regulamentação da política, o país elevou em 28% a quantidade de gases de efeito estufa que despeja no ar todos os anos, em vez de reduzi-la”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador do SEEG. “No ritmo em que está e com os indicativos de que dispomos, o país não consegue cumprir a meta de 2020 e se afasta da de 2025.”
O crescimento das emissões no último ano foi puxado pelo desmatamento na Amazônia, que disparou no ano passado. A quantidade de gases de efeito estufa do setor de mudança de uso da terra subiu 23% em 2019, atingindo 968 milhões de tCO2e — contra 788 milhões em 2018. O desmatamento respondeu por 44% do total das emissões do país no ano passado.
“O aumento significativo nas emissões brasileiras foi capitaneado pelas elevadas taxas de devastação na Amazônia e pelo descaso com a política ambiental”, disse Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). “O aumento das emissões não somente impacta nossos compromissos internacionais como ameaça a reputação do nosso agronegócio.”
Em segundo lugar está a agropecuária, com 598,7 milhões de toneladas de CO2e em 2019. Somando-se as emissões de uso da terra e agropecuária, o SEEG conclui que a atividade rural — seja direta ou indiretamente, por meio do desmatamento, que é quase todo destinado à agropecuária — respondeu por 72% das emissões do Brasil no ano passado.
“Os resultados mostram a crescente contribuição da agropecuária para as emissões nacionais. Esse cenário precisa ser revertido e, para isso, os sistemas de produção devem adotar as boas práticas de manejo e cuidar do solo, onde está concentrada a maior parte dos estoques de carbono”, afirma Renata Potenza, coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora.
O setor de energia respondeu por 19% do total de emissões do Brasil. “Na geração de eletricidade também houve aumento da demanda, o que causou uma elevação da geração por termelétricas fósseis, mas a geração hidrelétrica, eólica e solar teve um aumento ainda mais expressivo”, disse Felipe Barcellos, analista de projetos do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente). “Isso acabou por barrar o aumento das emissões do setor, que poderia ter sido maior.”
As emissões da indústria caíram 2% — de 101 milhões de tCO2e em 2018 para 99 milhões em 2019, e representaram no ano passado 5% das emissões do Brasil.
Por fim, o setor de resíduos teve um crescimento também discreto, de 1,3%, indo de 94,8 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2018 para 96,1 milhões em 2019. “Historicamente o setor apresenta um crescimento significativo. No entanto, nos últimos anos é possível enxergar uma certa estabilidade das emissões. Isso indica um cenário de manutenção da situação atual, sem grandes avanços na gestão de resíduos e no cumprimento das metas climáticas setoriais”, disse Iris Coluna, assessora de projetos do ICLEI América do Sul.
Acesse aqui o relatório completo da oitava edição do SEEG.
Próximos eventos
Como parte do lançamento do SEEG 8.0, serão realizados webinars paralelos para o aprofundamento em alguns temas. No dia 11/11, das 10h30 às 12h, o debate será em torno da “Agropecuária, Mudanças de Uso da Terra e Florestas”. Já no dia 17/11, no mesmo horário, a temática discutida será “Tratamento e gestão de resíduos sólidos. Por fim, no dia 19/11, também no mesmo horário, a discussão abordará “Energia, transporte e processos industriais”.
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Sobre o Observatório do Clima e o SEEG
Formada em 2002, o Observatório do Clima é uma rede composta por 56 organizações não governamentais – entre elas o ICLEI América do Sul – e movimentos sociais. Atua para o progresso do diálogo, das políticas públicas e processos de tomada de decisão sobre a mudança do clima no país e globalmente.
Já o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) foi a primeira iniciativa nacional de produção de estimativas anuais para toda a economia. Lançado em 2012, está hoje em sua oitava edição, é uma das maiores bases de dados nacionais sobre emissões de gases estufa do mundo, compreendendo as emissões brasileiras de cinco setores (Agropecuária, Energia, Mudança de Uso da Terra, Processos Industriais e Resíduos).
As estimativas são geradas segundo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base nos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações).
Atuaram no SEEG 8.0 pesquisadores do Ipam (Mudança de Uso da Terra), Imaflora (Agropecuária), Iema (Energia e Processos Industriais) e ICLEI América do Sul (Resíduos).