A cidade do Recife enfrenta riscos e impactos da crise climática resultantes da combinação de eventos extremos com fatores socioeconômicos de vulnerabilidade, como a alta taxa de desigualdade na concentração de renda, déficits de educação, acesso precário ao sistema de saúde e ao saneamento básico.
Buscando mitigar estes impactos e promover o desenvolvimento sustentável, em 2019 a capital pernambucana elaborou, por meio de uma parceria entre o ICLEI América do Sul e a WayCarbon, a “Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas e Estratégia de Adaptação”, ]que será utilizada como base para a elaboração do Plano de Adaptação Setorial do Recife. O documento aprofundará o conhecimento da cidade acerca dos riscos e opções de adaptação para os setores de saneamento básico, transformação urbana, mobilidade urbana e economia.
O ponto de partida para a elaboração do Plano de Adaptação Setorial aconteceu nesta terça-feira, 6 de julho, durante a primeira reunião conjunta do COMCLIMA (Comitê de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas do Recife) e do GECLIMA (Grupo de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas).
Presidente do GECLIMA, a vice-prefeita do Recife, Isabella de Roldão, elogiou a continuidade dada pelo atual prefeito João Campos ao compromisso com a sustentabilidade e governança climática, iniciado durante a gestão de Geraldo Julio, ex-prefeito da cidade e enviado especial do ICLEI para a América Latina.
“Tratar desta temática é, acima de tudo, defender a vida e dividir efetivamente a responsabilidade que todos devemos ter para que possamos conviver com as mudanças do clima”, apontou Roldão. “Recife já possui um Plano Local de Ação Climática construído a várias mãos e seguiremos construindo uma cidade para as pessoas e com as pessoas, entendendo que nossas escolhas se refletem no planeta e buscando atingir uma forma mais equilibrada de se viver.”
O secretário executivo do ICLEI América do Sul, Rodrigo Perpétuo, celebrou a realização de uma reunião “vanguardista” entre dois órgãos que prezam pela transparência das informações e pelo estímulo ao diálogo social. “Não é qualquer cidade que consegue trilhar esse caminho de desenvolvimento urbano sustentável e mantê-la atualizada como Recife faz, qualificando seu acesso a possibilidades de financiamento climático”, observou.
Perpétuo citou compromissos estabelecidos pela cidade, como a adesão ao Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e a Energia, à Race to Zero e à Race to Resilience. Também foram elaborados documentos climáticos como a “Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas”, o “Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa” e o “Plano Local de Ação Climática”, aumentando a ambição do governo local rumo à COP26 e associando esses movimentos com o Plano Diretor e com o Plano Recife 500 Anos, projeto de longo prazo que visa estruturar um plano estratégico para o desenvolvimento ordenado da cidade sob a perspectiva da inclusão e desenvolvimento urbano sustentável até 2037.
O desenvolvimento do Plano Setorial de Adaptação contribuirá para fortalecer a resiliência dos sistemas socioeconômicos e ambientais relacionados aos setores-chave do desenvolvimento urbano, melhorando a capacidade de resposta aos impactos dos eventos climáticos, reduzindo vulnerabilidades e promovendo oportunidades para o desenvolvimento local sustentável. Sua elaboração é financiada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e será realizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), por meioatravés do projeto CITInovam, e executada pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES) e pelo Porto Digital, com o apoio do ICLEI América do Sul e da WayCarbon.
O documento parte de um diagnóstico dos planos, estratégias e políticas relacionadas aos riscos climáticos setoriais e ao risco social, a partir do qual serão concebidos os planos setoriais, com medidas elaboradas e priorizadas de forma participativa. O ICLEI será responsável pelas atividades de sensibilização e engajamento de atores diversos, promoção da participação contínua e efetiva, comunicação ao longo de todo o projeto e disseminação de resultados.
“O que estamos lançando é uma grande jornada para acelerar as ações de mitigação dos riscos à vulnerabilidade climática e, até 2037, eliminá-los, apoiando a construção do Recife do futuro”, finalizou Perpétuo.
Confira como foi a reunião na íntegra.
COMCLIMA e GECLIMA
O COMCLIMA e o GECLIMA foram instituídos pelo Decreto nº 27.343/2013. O COMCLIMA é composto por representantes da administração pública municipal, estadual, federal, setor privado, academia e sociedade civil, sendo um foro decisório com a finalidade de debater, compartilhar informações e subsidiar o município na formulação e desenvolvimento das ações de sustentabilidade, redução das emissões de gases de efeito estufa e mecanismos de adaptação aos efeitos da mudança do clima.
Já o GECLIMA é formado exclusivamente por representantes do governo local e tem como objetivos principais apresentar e discutir internamente as ações e projetos na área ambiental e subsidiar a gestão na tomada de decisões.