O município de Recife, Pernambuco, Brasil, ocupa a 16ª posição do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) no ranking das cidades mais vulneráveis à mudança do clima no mundo. É neste cenário que, nesta quarta-feira (06/11), aconteceu o lançamento da Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas e Estratégia de Adaptação do Município do Recife, durante a Conferência Brasileira de Mudança do Clima, evento presente na cidade até dia 08 de novembro.
O documento foi elaborado pela Prefeitura Municipal do Recife, Waycarbon, banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Instituto Pelópidas Silveira e ICLEI com o intuito de avaliar as ameaças climáticas as quais Recife está submetida e apontar caminhos para adaptação. Para o prefeito Geraldo Júlio, “É um privilégio Recife acessar o conhecimento destas entidades para fechar a Análise e entender os riscos e as consequências da mudança climática até aqui e assim traçar ações concretas para poder preservar as vidas e diminuir os prejuízos causados à qualidade de vida das pessoas”, destacou.
Lançado no mesmo dia em que Recife assina o decreto de reconhecimento da Emergência Climática, a Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas foi baseada na metodologia desenvolvida pelo Banco Mundial e a Universidade de Columbia – New York de identificação de áreas críticas. O índice final leva em conta as seguintes ameaças ao município: inundação fluvial, deslizamentos, vetores de doenças transmissíveis, seca meteorológica, elevação do nível médio do mar e ondas de calor.
De acordo com o documento, o litoral de Recife possui 45,7% de sua extensão sob zona de alta vulnerabilidade, o que significa que a região será rapidamente atingida com a mudança do nível do mar. Cerca de 81% das construções urbanas estão a menos de 30 metros da linha costeira e localizadas em terrenos abaixo de 5 metros de altura. Além disso, a cidade sofre com as chuvas sobre as áreas de ocupação inadequada e uma infraestrutura de drenagem insuficiente, trazendo como consequências inundações e deslizamentos. Neste contexto, a projeção de aumento de risco de inundações até 2040 é de 68,44%.
Um outro ponto traz o clima como risco para a população de Recife, no contexto da saúde pública. O documento indica que toda a população está sujeita, em algum grau, à ameaça das doenças como Dengue, Zica e Chikungunya. O clima é um agravante para a proliferação do vetor de transmissão das doenças, considerando o mosquito Aedes aegypti.
As ondas de calor também são outra consequência do clima. Grandes centros urbanos funcionam como potencializador dos impactos na temperatura por conta das edificações, asfaltamento e diminuição de áreas verdes.
No entanto, Recife já vem trabalhando em compromisso com a agenda do clima desde 2012, quando foi selecionada para ser uma das cidades do projeto do ICLEI com a ONU Habitat, Urban LEDS. A construção de uma política efetiva de monitoramento e adaptação da cidade resultou no inventário da emissão dos Gases do Efeito Estufa (GEE), no Plano Municipal de Enfrentamento às Mudanças Climáticas, no Sistema Municipal de Unidades Protegidas (SMUP) e agora, no documento de Análise de Risco às Mudanças do Clima e Estratégia de Adaptação do Recife.
Entre as ações realizadas no município do ano de 2013 até 2019, podemos destacar, no contexto da vulnerabilidade à alagamentos, a expansão da cobertura vegetal por meio do replantio de árvores, o que proporcionou a melhora no escoamento de água. Além disso, investimentos em infraestrutura de drenagem e manejo foram realizados pelo Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas, combinado com a Lei do Telhado Verde. Em 2018, o investimento foi de R$ 2.708.667,20. Dos 177 pontos críticos de inundação, nos últimos anos, 90 deles foram solucionados. Quando se trata de erosão costeira, a Prefeitura mantém um investimento anual de R$ 1,5 milhões.
O lançamento da Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas e Estratégia de Adaptação do Município do Recife surge no âmbito da retomada do projeto Urban LEDS II, que pressupõe a implementação do Plano de Redução de Emissão de Gases de Efeito Estufa. Além disso, o documento da Análise é um instrumento catalisador de fontes de financiamento na medida que identifica as ações prioritárias à adaptação às mudanças climáticas da cidade do Recife.