ICLEI América do Sul desenvolve ações para apoiar a conscientização sobre alimentação saudável

Em diálogo com o Dia Mundial da Alimentação, que acontece em outubro, organização destaca a importância do tema

15 de out de 2021

Horta urbana. Crédito: Wikimedia Commons

De acordo com relatório da ONU, atualmente 2 bilhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar moderada ou grave, de modo que não possuem uma alimentação saudável, de qualidade ou em quantidade suficiente para suprir suas necessidades.

 

Em destaque neste tema, a América do Sul ganha evidência na região da América Latina e Caribe, sendo o subcontinente com o maior número de pessoas sofrendo com casos de subnutrição.  

 

No entanto, ao mesmo tempo, em alguns lugares do planeta a fome não é o problema, mas sim a alimentação inadequada. Responsável por desencadear problemas de saúde graves, como a obesidade, a alimentação não saudável totaliza 40 milhões de crianças menores de cinco anos com sobrepeso, segundo o relatório da ONU citado acima.  

 

Ainda, hoje, a população demanda cada vez mais que as cidades facilitem o acesso à alimentação saudável, ao mesmo tempo em que a agenda internacional convoca-as a tomarem posições fortes no combate às mudanças climáticas, uma vez que a urbanização massiva gera gargalos na logística de distribuição de alimentos: 69% das emissões de GEE no Brasil estão relacionadas a atividades agropecuárias e ao desmatamento associado a elas. 

 

Por conta disso, é um papel cada vez mais fundamental das cidades o de concretizar ações para alcançar sistemas alimentares saudáveis para as pessoas e para o planeta, que sejam resilientes às vulnerabilidades climáticas e econômicas. 

 

Neste contexto, o ICLEI América do Sul, rede de governos locais comprometidos com o desenvolvimento sustentável, entende que quando as políticas públicas voltadas para a alimentação são integradas, coerentes, construídas de forma participativa e baseadas em visão sistêmica da alimentação, as mesmas são capazes de entregar resultados eficientes, duradouros, legítimos e eficazes. Por isso, é preciso pensar de forma integrada os desafios dos sistemas alimentares urbanos e estimular que os governos locais insiram os sistemas alimentares no desenvolvimento urbano e territorial de forma interconectada com a sustentabilidade de outros setores, como o transporte, o uso da água e do solo, a gestão de resíduos e a infraestrutura verde.

 

“É cada vez mais urgente entender e analisar as diversas barreiras que impedem os governos locais e subnacionais de conquistar sistemas de alimentação mais sustentáveis. Só assim será possível garantir ações que combatam a emergência climática ao mesmo tempo que garantam a saúde da população nas cidades.”, afirma Rodrigo Corradi, secretário executivo adjunto no ICLEI América do Sul. 

 

Dia Mundial da Alimentação

 

Comemorado no 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação foi criado com o objetivo de promover uma reflexão a respeito do quadro atual da alimentação mundial. 

 

A data foi escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) que, por sua vez, foi criada em 16 de outubro de 1945 com o intuito de assegurar a segurança alimentar de todos e garantir que as pessoas tenham acesso a alimentos de qualidade para terem uma vida ativa e saudável.

 

A cada ano, o Dia Mundial da Alimentação aborda temas que fortalecem reflexões a respeito da população carente, sua segurança alimentar e nutrição. Com base no tema escolhido, diversas atividades artísticas, esportivas e acadêmicas são realizadas ao redor do mundo. A primeira comemoração da data ocorreu no ano de 1981, quando o tema abordado foi “A comida vem primeiro” e, temas como “pobreza rural (1985)”, “Sistemas alimentares saudáveis (2013)”, “O clima está mudando, alimentação e a agricultura também (2016)” e “ Dietas saudáveis para um mundo de #fomezero (2019)”.

 

Por entender a importante relação entre os assuntos climáticos e alimentares e o protagonismo das cidades para lidar com os desafios, o ICLEI América do Sul atua em prol da promoção do acesso a conhecimento, parcerias e capacitações que geram mudanças sistêmicas para minimizar um dos grandes desafios para as cidades: o de garantir sistemas alimentares sustentáveis e uma dieta saudável a todos os seus habitantes.

 

LUPPA

 

Para contribuir com essa visão mais resiliente e integrada em relação aos sistemas alimentares, foi desenvolvido o  Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares (LUPPA), uma iniciativa do Instituto Comida do Amanhã, que conta com o apoio do Instituto Clima e Sociedade e do Instituto Ibirapitanga (ICS), em parceria com o ICLEI América do Sul e Reos Partners. O programa atua como uma plataforma colaborativa que tem como objetivo facilitar a construção de políticas alimentares municipais integradas, participativas e com abordagem sistêmica. 

 

Com o intuito de apoiar a temática, no último mês o programa lançou editais voltados a cidades de até 1,5 milhões de habitantes, gestores de cidades que já tenham consolidado políticas relacionadas a sistemas alimentares e querem apoiar na mentoria de cidades participantes, além de instituições governamentais e não governamentais sem fins lucrativos que queiram apoiar a realização do LUPPA.

 

O programa também organiza uma série de 5 webinars a serem apresentados ao longo de 2021 para debater a importância do tema. Até o momento já foram realizados 2 webinars e, nesta terça-feira (21/09) acontecerá o terceiro encontro, que promoverá reflexões sobre o acesso à alimentação saudável e territórios urbanos vulneráveis

 

O programa também organiza uma série de 5 webinars a serem apresentados ao longo de 2021 para debater a importância do tema. Até o momento já foram realizados 4 webinars, que abordaram temas como “Políticas alimentares integradas para cidades resilientes” e “Cidades, comida e resiliência climática”. Os próximos eventos podem ser conferidos no site do Instituto Comida do Amanhã. 

 

Todas as transmissões ficarão disponíveis no site do Comida do Amanhã: https://luppa.comidadoamanha.org/agenda 

 

Apoio às cidades

 

Além de promover os editais LUPPA, o ICLEI América do Sul também desempenha um importante papel promovendo eventos como Diálogo Independente sobre Sistemas Alimentares, importante para o engajamento das cidades latino-americanas comprometidas com o desenvolvimento de sistemas alimentares sustentáveis. O evento foi organizado pela FAO e o ICLEI América do Sul e reuniu 40 Governos Locais, 27 instituições da sociedade civil, redes de cidades e organizações internacionais, além de 10 universidades para estabelecer uma só voz em direção à garantia do direito humano à alimentação e à nutrição, no combate ao desperdício, na promoção da produção agroecológica e na construção de políticas alimentares circulares e resilientes, envolvendo todos os setores da sociedade. A partir do Diálogo, foram propostas as seguintes recomendações: a inclusão da agenda de alimentação saudável e produção de alimentos sustentáveis ​​como critério obrigatório para a alocação de recursos relacionados ao combate à crise climática; na declaração final da Conferência sobre Sistemas Alimentares, as cidades latino-americanas propõem que os países incluam os governos locais em suas políticas nacionais, especialmente as cidades, fornecendo recursos financeiros e técnicos, assim como diretrizes para a formulação de suas políticas públicas locais; a criação de um programa de cooperação entre cidades, com o objetivo de destacar as melhores práticas e divulgar exemplos replicáveis ​​de políticas locais.

 

Ainda, por meio da assessoria e da oferta de recursos às cidades da Rede ICLEI, a organização apoia na viabilização e construção de planos e políticas alimentares sustentáveis. Exemplos de cidades destaque nessa temática são Belo Horizonte (MG), que possui um extenso histórico participando de Agendas Internacionais, como no Pacto de Milão, na articulação em redes como o City Food e no compromisso com outros acordos internacionais, além de incentivar a participação cidadã e políticas públicas que fortalecem a relação de estímulo ao diálogo permanente na criação, consolidação e controle dos programas, projetos, serviços e ações de segurança alimentar e agroecologia.

 

Lima, associada ao ICLEI desde 2018, também é um exemplo destas cidades, pois ainda que seja uma cidade em constante crescimento demográfico, contempla em seu Plano Local de Mudança Climática ações que garantem a segurança alimentar e saúde, com a criação de parques e áreas verdes.