Como cidades brasileiras estão implementando Soluções baseadas na Natureza

Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Campinas e Londrina iniciam obras do projeto INTERACT-Bio

02 de jun de 2021

Lago Cabrinha Londrina | Foto: Maniva Produtora

Vivemos em uma década decisiva para a preservação da biodiversidade. Os ecossistemas sustentam toda a vida na Terra e quanto mais saudáveis eles forem, mais saudável será o planeta – assim como nós, seus habitantes. Os próximos 10 anos serão cruciais para a restauração ambiental, medida que apoia o enfrentamento à mudança do clima e a salvação de um milhão de espécies da extinção.

 

No que diz respeito aos acordos internacionais de biodiversidade, 2021 é um ano significativo pela ocorrência da 15ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção da Diversidade Biológica (CDB). Inicialmente prevista para ocorrer em 2020, a conferência foi remarcada em função da pandemia global da Covid-19 e será  em formato híbrido, virtual e presencial, na cidade de Kunming (China), entre os dias 11 e 24 de outubro de 2021.

 

A campanha global do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, marca o início oficial da Década das Nações Unidas da Restauração dos Ecossistemas (2021-2030), que terá o objetivo de aumentar os esforços de restauração em ecossistemas degradados, incentivando a adoção de medidas eficientes para combater a crise climática, alimentar, hídrica e a perda de biodiversidade. 

 

Estudos recentes, como o lançado pela Comissão Global de Adaptação, de 2019, desenham um caminho para aumentar a resiliência dos centros urbanos. Entre as recomendações está o uso de Soluções baseadas na Natureza (SbN), que são alternativas eficientes para os desafios urbanos enfrentados pelos governos locais. 

 

O termo Soluções baseadas na Natureza foi cunhado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) para definir um conceito guarda-chuva que inclui abordagens para a restauração e conservação de ecossistemas, serviços de adaptação climática, infraestrutura natural, gerenciamento de recursos naturais, entre outras.

 

E apesar da importância de aliar o desenvolvimento urbano às ações sustentáveis, poucas cidades no Brasil utilizam Soluções baseadas na Natureza (SbN) para resolver problemas urbanos, mesmo o conceito sendo considerado uma das formas mais inteligentes de infraestruturas e que demandam menos manutenção. 

 

Pensando nesse novo cenário e aliados a um planejamento urbano mais sustentável, as Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Campinas e Londrina, irão realizar a obras de infraestrutura para lidar com os desafios urbanos. 

 

Estas obras são chamadas de Projetos Demonstrativos e buscam implementar um modelo de infraestrutura mais inteligente e a possibilidade de transformar os ambientes urbanos em lugares melhores, mais atraentes e que proporcionem maior bem-estar para as pessoas e para o meio ambiente.  

 

Belo Horizonte e Contagem (MG)

 

Em Belo Horizonte e Contagem, serão realizadas a implementação de Jardins de Chuva, solução que contribui com o escoamento da água da chuva, permitindo que a água seja filtrada pela vegetação e se infiltre no solo. Esse tipo de solução auxilia na recarga do lençol freático, aumenta a biodiversidade, melhora o microclima local e a qualidade do ar. Quando prontos, os jardins de chuva receberão o plantio de espécies arbóreas e arbustivas para promover a diversidade biológica e o manejo agroecológico do solo. As obras serão implementadas no Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado (Belo Horizonte) e na Praça Presidente Tancredo Neves (Contagem). 

 

Para Mário Werneck, secretário Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte, a cidade é das poucas capitais brasileiras que possui planejamento e corpo técnico capacitado para implementar ações capazes de reduzir os efeitos causados pela mudança climática. “Em alinhamento com a política climática defendida pela Conferência Global do Clima da ONU, a COP26, o município pode se tornar referência para as demais cidades mineiras, atraindo investimentos para projetos de redução da emissão de gases de efeito estufa”, afirma.

 

 Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado (BH) Foto: Maniva Produtora

Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado (BH) | Foto: Maniva Produtora

Praça Presidente Tancredo Neves | Contagem (BH) Foto: Maniva Produtora

 

Campinas (SP)

 

Será realizada a implementação de três Passagens de Fauna ou Corredores Ecológicos, pontes que conectam duas margens de rodovias, que possibilitam que os animais silvestres da região as usem como caminho para circularem entre áreas verdes, evitando atropelamentos. Esta obra não só resguarda a vida dos animais, mas também contribui para o equilíbrio dos ecossistemas, aumentando os espaços para os animais poderem se reproduzir e se alimentar, pluralizando a qualidade de vida de todo o ambiente ao redor. 

 

“Essa articulação regional em prol da recuperação ambiental, da valorização de serviços ecossistêmicos e em defesa da biodiversidade para reconectar áreas verdes da RMC, através de corredores ecológicos, já é referência em todo o mundo e nos traz entusiasmo e esperança em um momento de apreensão”, afirma Rogério Menezes, secretário do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Campinas.

 

Campinas (SP) | Foto: Maniva Produtora

 

Londrina (PR)

 

Em Londrina a intervenção será feita no córrego Cabrinha, localizado em um parque linear, referência para a população da Zona Norte da cidade. O projeto prevê a instalação de estruturas rochosas para diminuir a energia da água que é escoada pelas galerias convencionais de água provinda das chuvas e o plantio estratégico de determinadas espécies vegetais que, por meio da fitorremediação, podem amenizar a poluição difusa que atinge o corpo d’água. Essas soluções pretendem evitar erosões e deslizamentos de terra das margens, deter o assoreamento do rio, melhorar a qualidade da água e fortalecer o parque linear como um espaço de lazer cada vez mais reivindicado pela população do seu entorno.

 

Segundo Marcelo Belinati, prefeito de Londrina, essas soluções ambientais foram propostas para preservar o Lago Cabrinha. “Anos atrás, o Lago Cabrinha estava impossível para as pessoas frequentarem. Estava sujo, feio, escuro e totalmente assoreado. Então, foi feito um grande trabalho pela Prefeitura, ele foi desassoreado, foi construída uma pista de caminhada, bancos e parquinho e colocada iluminação em LED. Tudo para a população voltar a usar o local e ela voltou. Agora, o projeto demonstrativo vai buscar a ocupação das pessoas, mas de forma que haja a preservação ambiental. Londrina é privilegiada. São mais de 80 fundos de vale, 100 áreas com córregos e ribeirões e a nossa ideia é que haja o equilíbrio entre o desenvolvimento da cidade e a preservação ambiental”.

 

Lago Cabrinha | Foto: Maniva Produtora

 

Para Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI  América do Sul, o início das obras é um momento de grande representatividade e consolidação do trabalho desenvolvido pelo ICLEI. “A implementação dos projetos demonstrativos representam um avanço no caminho de desenvolvimento urbano sustentável do país, na medida em que impulsionam o fortalecimento institucional das regiões participantes, a implementação de Soluções baseadas na Natureza, a promoção de serviços ecossistêmicos e o desenvolvimento urbano sustentável que pensa em um futuro melhor para todos.”

 

Sobre o projeto

 

O Projeto INTERACT-Bio é implementado pelo ICLEI e visa melhorar a utilização e gestão dos recursos naturais em cidades de rápido crescimento e nas regiões que as cercam, principalmente em relação ao fornecimento de serviços essenciais para o dia a dia das cidades e, ao mesmo tempo, a melhorarem a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. Financiado pelo Ministério Federal Alemão do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU), por meio da Iniciativa Internacional para Proteção do Clima (IKI). O projeto também é realizado na Índia e Tanzânia.