A capital do Piauí, Teresina, por sua característica mesopotâmica (situada entre rios) e proximidade da linha do Equador (5° de latitude sul), além de outras condições geográficas que se somam, fazem de Teresina uma cidade quente. No entanto, o intenso processo de urbanização, somado às condições socioeconômicas, ambientais e fatores globais como o aquecimento do planeta e consequente mudança do Clima, a colocam no ranking de cidades mais vulneráveis a extremos climáticos.
Os efeitos disso já podem ser sentidos pela população: chuvas irregulares, elevados volumes de precipitação em pequenos intervalos de tempo, calor ainda mais intenso e aumento de arboviroes, o que têm colocado as autoridades públicas em estado de alerta. Como consequência, a população sente os impactos das inundações, alagamentos e enxurradas, que tem se tornado cada vez mais frequentes. Se antes os meses de maio, junho e julho eram caracterizados pela brisa e ventos que amenizavam a sensação térmica, esse clima amistoso tem dado lugar ao calor. E a perspectiva é que o período mais quente do ano, carinhosamente batizado de B-R-O Bró [setemBRO, outuBRO, novemBRO e dezemBRO], esteja chegando mais cedo e pode vir com temperaturas ainda mais altas.
Antes mesmo da pauta climática tomar lugar de destaque e relevância mundial, a capital do Piauí, Teresina, já investia em políticas públicas no sentido de buscar a coexistência harmônica com os seus ecossistemas. Buscar soluções para preservar seus rios e lagoas, sem sofrer os efeitos das cheias, como a que ocorreu no ano de 1985, em que milhares de famílias ficaram desabrigadas numa das maiores enchentes registradas na história da cidade. Os volumes dos rios e lagoas inundaram bairros inteiros da zona norte, chegando ao centro.
Esse ponto referencial foi a base de estudos hidrológicos para a formulação de um programa multissetorial integrado: o Lagoas do Norte. Reconhecido mundialmente por seus resultados e pela transformação que provocou em uma área antes degradada, o programa foi financiado com recursos do Banco Mundial e até hoje é referência para outros estudos e para cidades que enfrentam desafios similares em busca de adaptação climática.
Atualmente, a Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação abriga o Viver+Teresina, que nasceu na mesma época da 1ª Conferência do Clima de Teresina – ClimaTHE23, em abril de 2023. O programa herdou uma equipe especializada e multiplicou esforços para elaboração de projetos com foco em adaptação, utilizando uma engenharia ambientalmente inteligente, com soluções baseadas na natureza, ampliação da cobertura vegetal e ações de educação climática com populações mais vulneráveis.
Ainda em 2023, a cidade consolidou seu Plano de Ação Climática e o Plano Municipal de Arborização Urbana. Foi constatado pelo Plano de Ação Climática que a perda de cobertura vegetal tem provocado um avanço nas ilhas de calor, risco de arboviroses, inundações e enchentes e ainda incêndios/queimadas.
Uma cidade verde outra vez
Se antes Teresina era conhecida como “Cidade Verde”, característica que inspirava os poetas locais, hoje se alastram as ilhas de calor, tornando-a insalubre em determinados horários do dia. A constatação óbvia é que essa realidade precisa mudar. Teresina precisa resgatar sua essência.
O ClimaTHE24 – 2ª Conferência do Clima de Teresina será um marco na mobilização da ação climática local, destacando a necessidade de uma resposta imediata e coordenada à crise climática. Neste contexto, o evento traz o tema “A cidade que eu quero é verde” e propõe que Teresina abrace o movimento de rearborização e, assim, consiga frear o avanço das ilhas de calor.
Para guiar esse trabalho, a cidade já possui o Plano Municipal de Arborização Urbana, construído pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
O ClimaTHE24 vai trazer toda a evolução que a cidade vem vivenciando e o novo planejamento urbano que proporcionará resiliência e adaptação diante dos desafios impostos pela crise climática.
Pesquisa revela a vulnerabilidade das mulheres frente à Emergência Climática
Em parceria com o Fundo de Populações da ONU, a Agenda Teresina 2030 está realizando uma pesquisa com mulheres no contexto de emergência climática. Essa pesquisa está em fase de diagnóstico e levantamento de uma série de dados e tem como base o Plano de Ação Climática. O público são grupos historicamente vulneráveis: mulheres moradoras do bairro Promorar. “Foi constatado que o bairro possui pouca arborização, tem grande cobertura de asfalto e isso é preocupante. Ele se tornou uma grande ilha de calor e reúne muitas mulheres vulneráveis. Estamos estudando esse bairro e se tornará um estudo piloto para ser aplicado em outras áreas da cidade”, afirma Leonardo Madeira, coordenador da Agenda 2023 de Teresina.
Primeira infância e clima
As crianças que vivem em áreas mais periféricas também estão mais vulneráveis aos efeitos da crise climática, principalmente em relação às altas temperaturas e baixa umidade do ar.
A Agenda Teresina 2030 celebrou uma parceria com uma instituição internacional e está desenvolvendo, junto com a Secretária Municipal de Educação (Semec), a iniciativa de atendimento aos alunos de um Centro Municipal de Educação Infantil, com idades entre 3 e 5 anos.
“Uma família depende da escola diariamente. A gente costuma dizer que o papel da Semec é social, mais do que educação. É alimentação, assistência social, acesso à saúde e políticas públicas. Tudo é englobado na escola. Então, a gente precisa dar atenção a essas vulnerabilidades que são agravadas pelas questões climáticas”, avalia o secretário de Educação, Reinaldo Ximenes.
Horticultoras
Está em fase de formatação uma iniciativa que será desenvolvida com mulheres horticultoras. Elas estão expostas à radiação solar diariamente em sua atividade, por isso estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças cardíacas, câncer e oculares, por exemplo. E a importância do investimento em agricultura familiar vai de encontro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS / ONU) como o que preconiza a “Fome Zero e Agricultura Sustentável” como caminho para garantir a segurança alimentar, acabando com a fome e promovendo sistemas alimentares sustentáveis.
Fundo Municipal de Justiça Climática
A tendência já alertada pelos cientistas no mundo todo é que os eventos extremos de calor e chuvas irão se intensificar. Populações inteiras já estão sendo atingidas. Diante desse fato, uma das principais propostas apresentadas na reunião de instalação da comissão foi a criação de um fundo para atendimento às iniciativas necessárias à população.
“Esse fundo pode ser alimentado por recursos públicos, da iniciativa privada, organismos internacionais. E ele seria direcionado para os mais vulneráveis, em atendimento para os injustiçados do clima. É o desafio para a comissão. Num eventual cenário de crise, as pessoas possuem referência de onde doar, o que fazer e é possível gerenciar melhor esses esforços”, explica Leonardo Madeira, que está à frente da iniciativa.
A crise climática veio para ficar
Os eventos extremos são o novo normal no Brasil e no mundo. Seca na Amazônia, enchentes, mortes e perdas econômicas no Rio Grande do Sul, ondas de calor que se espalham por todas as regiões tendem a se intensificar. As cidades e os estados precisam se adaptar a essa nova realidade.
O que a Prefeitura de Teresina tem realizado já há alguns anos são ações, obras e iniciativas, como a criação da comissão, com esse intuito. “Nenhuma cidade no mundo está imune aos efeitos dos eventos extremos. As populações mais vulneráveis, aqueles que não possuem meios financeiros de se protegerem do sol, da chuva e das doenças, precisam de educação climática e do apoio do poder público para melhorar suas condições de vida. Esse é o objeto do nosso trabalho diário”, afirma Leonardo Madeira.
SERVIÇO:
3º Encontro ICLEI Nordeste
2ª. Conferência do Clima de Teresina – ClimaTHE 24
Encontro Regional Nordeste do Fórum CB27
Data: 27 a 29 de maio de 2024
Local: SESC Cajuína (Av. Cajuína, 725 – Noivos, Teresina – PI)