Porque é importante conhecer as emissões de gases de efeito estufa nas cidades?

Projeto SEEG divulgou pela primeira vez os dados de emissão de todos os 5.570 municípios brasileiros

04 de mar de 2021

Foto: Ryoji Iwata

Hoje, mais de 54% da população mundial vive em centros urbanos. Segundo estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), Em 2050, tal proporção deve chegar a 66%, de acordo com o relatório. O Brasil já supera esse cenário futuro: 76% da população vive em centros urbanos, conforme dados revisados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

 

A urbanização contribui diretamente para o aumento de emissões dos gases de efeito estufa (GEE), dos quais as cidades são responsáveis por 70% das emissões globais. Em contraponto a essas emissões, os governos locais são atores fundamentais para que seja cumprida a meta estabelecida pelo Acordo de Paris de limitar o aquecimento global em 1,5°C. Afinal, é nas cidades que as decisões que afetam diretamente as emissões de GEE são tomadas. 

 

Para colocar em prática as ações locais pelo clima, é necessário compreender o perfil de emissões, ou seja, quais são as principais fontes e atividades antrópicas que geram as emissões de GEE dentro das fronteiras geográficas. Compreender as emissões oriundas do desmatamento, do consumo de combustíveis, dos processos industriais, das atividades agropecuárias e/ou do tratamento de resíduos é o primeiro passo para a cidade planejar sua estratégia de enfrentamento à crise climática. 

 

O projeto SEEG surgiu a partir da demanda de geração de informações na escala municipal para fornecer uma estimativa de emissões de GEE, oferecendo instrumentos para que os governos locais, estaduais e nacionais tenham uma ferramenta de apoio na tomada de decisão e no processo de planejamento climático. Os dados disponibilizados pela plataforma SEEG são gerados em escala nacional de forma aberta e gratuita. 

 

Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI América do Sul, afirma que o SEEG é um instrumento de balizamento de política pública para as cidades “Através de dados ciêntificos, disponibilizados pela ferramenta de forma gratuita e que vão nortear as ações de implementação contra a emergência climática nas cidades, dando escala para que as ações locais contribuam com a transformação nas agendas globais da emergência climática. 

 

De acordo com os dados levantados pelo SEEG e apresentados em evento online organizado pelo Observatório do Clima, 7 das 10  cidades que mais emitem no Brasil se encontram na região Norte, sendo que essas emissões são decorrentes de atividades associadas principalmente ao desmatamento. 

 

Alguns dados do relatório:

 

  • Em 2018, a agropecuária foi a maior fonte emissora de GEE em 65,8% dos municípios brasileiros, um total 3.666 municípios.
  • Municípios localizados nos Estados de Mato Grosso, Pará e Mato Grosso do Sul estão entre os 20 que mais emitiram pelo setor agropecuário em 2018, por terem os maiores rebanhos bovinos.
  • São Paulo lidera o setor de energia, com 12,4 milhões de toneladas, seguida por Manaus (6,2MT) e Rio de Janeiro (6MT).
  • Municípios mais populosos, como as capitais, têm no setor de Energia sua principal fonte de emissões, sobretudo devido ao consumo de combustíveis fósseis (diesel e gasolina) nos transportes.
  • Apesar de ser mais populoso, São Paulo apresenta recuperação de metano em dois aterros sanitários (São João e Bandeirantes, que atualmente estão inativos), recuperando cerca de 55 mil toneladas de CH4 em 2018.
  • No Cerrado, entre os maiores emissores estão os municípios na região de expansão da agropecuária no Matopiba (fronteira agrícola entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)
  • O setor de processos industriais é marcado pela escassez de dados de atividades que permitam estimativas mais precisas de suas emissões associadas.
  • Florianópolis é a capital do motor: 62% das emissões do município vêm dos transportes. Logo abaixo na lista, empatadas, estão Brasília e Curitiba, com 59%.

 

Como organização referência de sustentabilidade na América do Sul e principal articulador dessas agendas com os governos locais, o ICLEI América do Sul participa do projeto SEEG estimando as emissões do setor de resíduos. A iniciativa fomenta a democratização e transparência dos dados e incentiva o debate com diversos atores da sociedade civil, resultado que apoia diretamente a elaboração de estudos e de políticas públicas que apoiam as cidades no planejamento de ações climáticas. 

 

Conhecer as emissões dos municípios brasileiros é o primeiro passo em direção a ações efetivas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Todos os dados apresentados durante o encontro estão disponíveis em: http://seeg.eco.br

 

Assista o evento completo de lançamento do SEEG Municípios.  

 

O projeto é uma parceria entre o ICLEI América do Sul, Observatório do Clima, IPAM, Instituto de Energia e Meio Ambiente, Imaflora Brasil e Imazon Cursos e é financiado pela União Europeia no Brasil, Oak Foundation Instituto Clima e Sociedade e Climate and Land Use Alliance.

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