Mutirão Jovens pelo Clima em Campinas evidencia o protagonismo jovem e soluções de adaptação local

Conheça a iniciativa vencedora da chamada pública “Mulheres que Alimentam Cidades”

07 de ago de 2025

No dia 12 de junho, durante o 2º Encontro Sudeste do ICLEI Brasil, em Campinas, foi anunciada a iniciativa vencedora da chamada pública Mutirão Jovens pelo Clima em Campinas, lançada pelo ICLEI em parceria com a Prefeitura da cidade. A ação buscou fortalecer o protagonismo juvenil, ampliar o engajamento com a agenda climática global e valorizar soluções que promovem justiça climática a partir de contextos locais.

 

Inspirado na prática comunitária tradicional brasileira de reunir pessoas para resolver desafios comuns, o conceito de mutirão foi ressignificado no contexto climático como símbolo de ação coletiva, voluntária e descentralizada. Trata-se de um movimento que reconhece que as transformações necessárias para enfrentar a crise do clima devem surgir, também, de baixo para cima — a partir dos territórios, suas realidades, culturas, saberes e vozes diversas.

 

Tendo como base o conceito de contribuições autodeterminadas apresentado nas últimas cartas da presidência da COP 30, esses mutirões complementam as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), tornando a agenda climática global mais justa, plural e conectada com os territórios.

 

O projeto “Mulheres que Alimentam Cidades”, desenvolvido por docentes e estudantes da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”  da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), recebeu o prêmio de primeiro lugar do concurso. A iniciativa promove renda, assistência alimentar e capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade, conectando segurança alimentar, equidade de gênero e adaptação climática.

 

 

A iniciativa vencedora

 

O projeto Mulheres que Alimentam Cidades, foi idealizado originalmente em Itatinga e reformulado em Piracicaba. Por meio de hortas comunitárias e formação técnica, o projeto alia empoderamento feminino, agricultura urbana e justiça climática, demonstrando forte engajamento comunitário e potencial de replicabilidade em outros contextos. 

 

Criado por docentes e estudantes da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o projeto nasceu em 2021 a partir de reflexões sobre agroecologia e feminismo. “A pesquisa inicial buscava entender como as mulheres promovem a agroecologia nos territórios e contribuem para cidades mais sustentáveis no cotidiano, com ações que envolvem o cuidado com a terra, a produção de alimentos e a alimentação das famílias”, conta Joana Soares, estudante de Engenharia Florestal e integrante do projeto.

 

A virada aconteceu após a participação em um programa de aceleração, que permitiu o redesenho da proposta com foco em sua replicabilidade. O projeto passou a conectar diferentes atores, como universidades, poder público, organizações locais e a própria comunidade, para transformar terrenos ociosos em espaços produtivos, verdes e seguros. “A ideia era muito mais do que plantar hortaliças. Queríamos promover a restauração ambiental e social desses espaços, formar as mulheres para o autogerenciamento e valorizar as iniciativas de base”, explica.

 

Em 2024, o projeto foi selecionado no edital internacional Food System Innovation Challenge, da Holanda, garantindo apoio financeiro e técnico para sua ampliação. Com a parceria da Secretaria de Agricultura de Piracicaba e do Sebrae, o grupo deu início a uma nova fase, saindo do ambiente universitário para explorar sua sustentabilidade no médio e longo prazo. “Estamos num momento de transição. Queremos que esse projeto ganhe vida própria fora da universidade”, afirma Joana.

 

O impacto na vida das mulheres envolvidas é visível: aumento da autoestima, segurança alimentar, retomada da autonomia e da renda. Em Piracicaba, a prefeitura viabilizou apoio financeiro às participantes, por meio de um programa de transferência de renda com salário mínimo, vale-transporte e cesta básica. O mapeamento das mulheres foi feito por meio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), fortalecendo a articulação comunitária.

 

Além de ser um espaço de produção, a horta tornou-se um ponto de encontro e afeto. “Houve momentos difíceis, como pequenos furtos, que nos fizeram refletir sobre a vulnerabilidade do território. Mas foi ali também que encontramos apoio, as próprias moradoras passaram a proteger a horta, a se apropriar do espaço”, relembra Joana. “O café da tarde virou um ritual. A horta virou espaço de escuta, de apoio emocional e de construção de autoestima”.

 

A valorização da iniciativa por organizações como o ICLEI representa um reconhecimento fundamental. “Receber esse apoio é muito importante porque mostra que o que estamos fazendo tem valor para além do nosso território. Que iniciativas de base são essenciais na resposta à crise climática”, afirma. Como premiação, a iniciativa receberá mentoria técnica e apoio à expansão da divulgação para ampliar sua visibilidade nacional e internacional.

 

Joana e a equipe seguem em busca de recursos e parcerias para ampliar o alcance da iniciativa. Com o amadurecimento da proposta, surgiu também a Rede Brasileira de Biodiversidade e Clima, criada para fortalecer institucionalmente o projeto e permitir sua replicação em outros territórios, respeitando as diferentes realidades e vulnerabilidades do país. “Nosso sonho é transformar esse projeto em um instituto, com presença nacional e atuação conectada às mulheres, à terra e ao clima”.

 

 

Mobilização climática com base territorial

 

O Mutirão em Campinas mostrou que iniciativas locais, mesmo em pequena escala, podem gerar impactos reais, especialmente quando construídas com participação social e atenção às desigualdades. O projeto “Mulheres que Alimentam Cidades” é um exemplo potente de contribuição autodeterminada à ação climática, mostrando como justiça social, empoderamento comunitário e regeneração ambiental podem andar juntos.

 

A experiência do Mutirão Jovens pelo Clima será compartilhada em uma publicação nacional com os destaques de todos os mutirões organizados ao longo de 2025, compondo um legado coletivo rumo à COP 30, em Belém. Iniciativas como esta evidenciam o papel estratégico das comunidades e dos territórios na construção de soluções climáticas reais e a força dos encontros que fazem surgir novos futuros possíveis.

 

Confira o vídeo e saiba mais sobre a iniciativa: https://youtu.be/AzvGI38zOmw

 

 

 


Voltar
Compartilhe