Com o propósito permanente de qualificar a territorialização das agendas globais de sustentabilidade para seus associados, o ICLEI América do Sul está ampliando sua equipe com especialistas com mais de 10 anos de experiência. A primeira Senior Fellow a compor o quadro do ICLEI é a arquiteta e urbanista Maria Caldas, que irá atuar na área do Desenvolvimento Urbano Sustentável.
Arquiteta graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Caldas desenvolveu sua carreira na área de gestão e planejamento urbano e atuou em municípios de médio e grande portes. Em Belo Horizonte, foi Secretária de Política Urbana e de Planejamento Urbano. No Governo Federal, ocupou o cargo de Diretora de Infraestrutura Social e Urbana da Secretaria Nacional do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão; e integrou o Comitê Nacional de Acompanhamento do Programa Minha Casa, Minha Vida e o Conselho Nacional das Cidades.
Com ampla experiência nas áreas de desenvolvimento urbano, gestão, planejamento urbano e metropolitano, e na formulação de políticas e programas urbanos, plano diretor, legislação urbanística e habitação, Maria Caldas também é autora de livros como “A Utopia da Reforma Urbana – Ação Governamental e Política Pública no Brasil”. “Vejo o ICLEI como uma organização estruturada e preparada para fazer um projeto que eu sonho há muito tempo, que é a aproximação da política urbana com a política ambiental e climática e conseguir construir uma política pública adequada ao desenvolvimento urbano”, afirmou Maria Caldas.
O Secretário Executivo do ICLEI América do Sul, Rodrigo Perpétuo, destacou que a organização “está compondo um quadro qualitativo de Senior Fellows e, nas próximas semanas, serão anunciados outros nomes que irão contribuir com outras áreas.”
Confira abaixo à integra da entrevista com Maria Caldas:
Quem é Maria Caldas?
Sou arquiteta, formada pela UFRJ e doutora em arquitetura e urbanismo pela UFMG. Construí minha carreira quase sempre no setor público, sempre atuando com políticas de desenvolvimento urbano. Fui Secretaria de Política e/ou Planejamento Urbano em cidade de porte médio e em Belo Horizonte, oportunidades que me permitiram transitar por praticamente todas as políticas setoriais relacionadas à temática urbana. No Governo Federal, fui Diretora de Infraestrutura Social e Urbana do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, responsável pela seleção, gestão e monitoramento de projetos apoiados com recursos do Governo Federal para as cidades brasileiras. Atualmente, além de Senior Fellow do ICLEI, atuo como Consultora Senior no Lincoln Institute of Land Policy e como consultora para a formulação de políticas públicas para municípios.
Quais as principais experiências adquiridas ao longo da sua carreira que entende irão contribuir com seu trabalho junto ao ICLEI?
Em primeiro lugar, eu destacaria o conhecimento que adquiri sobre as dinâmicas urbanas, especialmente sobre o processo de produção das cidades, suas causas e consequências, bem como, a compreensão de que essas dinâmicas, assim como as políticas públicas para orientá-las, devem ser concebidas e formuladas de modo intersetorial e integrado. Tudo tem como base o território, o uso e a forma de ocupação que se estabelece sobre ele. Não se pode pensar na política urbana sem considerar os aspectos ambientais e vice-versa. Por fim, destacaria ainda minha experiência na formulação de políticas públicas e na sua implementação.
Como conheceu o ICLEI e quais as expectativas com relação à parceria?
Conheci o ICLEI quando fui Secretária de Política Urbana de Belo Horizonte em trabalhos que desenvolvemos junto com a Secretaria de Meio Ambiente. Vejo no ICLEI a oportunidade e a viabilidade de colocar em prática esta abordagem integrada e articulada sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento urbano sustentável. O ICLEI se tornou importante referência na implementação dos acordos e marcos globais de sustentabilidade e vem cumprindo com muito êxito a missão de mobilizar os governos locais para dar conta destes desafios.
Se pudesse resumir esta oportunidade em poucas palavras, o que diria?
Diria que é uma oportunidade ímpar para promover a aproximação entre a política urbana e ambiental, particularmente, considerando a urgência e a gravidade das ameaças relacionadas à crise climática.
Como você vê o impacto da crise climática no planejamento urbano?
O planejamento das cidades precisa com urgência incorporar a questão climática como um de seus pressupostos e estabelecer estratégias para a redução das emissões de Gases do Efeito Estufa. São estratégias e instrumentos urbanísticos que tratam, por exemplo, de reduzir o impacto da mobilidade gerado pela necessidade dos grandes deslocamentos, das emissões relacionadas ao uso de energia renovável nas edificações, ou ainda na produção e destinação de resíduos. Também é fundamental estabelecer estratégias para melhorar a adaptação e a resiliência das cidades, estando especialmente no centro da questão as áreas onde vivem as populações mais vulneráveis, que certamente são as que mais sentem os impactos climáticos.
Na sua opinião, quais os maiores desafios dos territórios que decidem trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável?
Penso que um dos maiores desafios é a mobilização dos atores e a conscientização de que cada segmento, público ou privado. Cada organização social, cada cidadão tem um papel a desempenhar para que todos, em especial nossos filhos e netos, possam viver em um ambiente seguro e saudável. Como nunca, a situação exige que o interesse coletivo prevaleça sobre os interesses particulares e que sigamos juntos sem deixar ninguém para trás.
E quais as melhores oportunidades?
Vejo como oportunidade a mobilização mundial sobre o tema e o fortalecimento das discussões sobre a economia verde, pois sabemos que o setor produtivo precisa aderir à mudança no modo de produção para que possamos equilibrar o crescimento com a sustentabilidade. A COP27 apontou para uma forte ampliação do setor privado nas discussões sobre as estratégias da crise climática, pois finalmente está claro que seus efeitos afetam a todos e colocam em risco a economia global. Também é animador perceber a adesão de jovens às políticas de preservação ambiental, a adesão consciente a novas práticas alimentares e observar o interesse cada vez maior na mobilidade ativa e ágil do que na posse de veículos motorizados.
Uma realização.
A mais recente, ter liderado uma equipe que elaborou o Plano Diretor de Belo Horizonte, aprovado em 2019, em perfeita consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e que adotou instrumentos do Estatuto da Cidade para promover uma cidade mais justa e igualitária e uma diversidade de inovações e instrumentos urbanísticos para assegurar a recuperação e a sustentabilidade ambiental da cidade e ampliar a sua resiliência.
Uma paixão.
Formular políticas para incluir e proteger a população vulnerável na cidade.
Um sonho.
Permita-me recorrer ao poeta:
Uma cidade sem portas,
de casas sem armadilha,
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Esse país não é meu
Nem vosso ainda, poetas.
Mas ele será um dia
O país de todo homem.
(Carlos Drummond de Andrade
O ICLEI é…
Uma organização preparada e estruturada para apoiar os governos locais na condução rumo ao desenvolvimento sustentável.