Financiamento climático para governos subnacionais: uma prioridade rumo à COP30

Na CCI25, especialistas e representantes subnacionais destacam que o acesso a financiamento climático é condição essencial para acelerar a ação territorial rumo à COP30.

16 de jul de 2025

Argentina, julho de 2025. Durante a Conferência Climática Internacional “Compromisso Latino-Americano” (CCI25), realizada em Córdoba de 1º a 3 de julho, o financiamento climático emergiu como um dos eixos centrais do debate. Em um mundo que enfrenta urgências ambientais cada vez mais críticas, ficou claro que a ação climática precisa de recursos reais, sustentáveis e estrategicamente orientados a partir dos e para os territórios.

 

Na plenária liderada por Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI América do Sul, evidenciou-se uma verdade incômoda: dos 830 bilhões de dólares mobilizados globalmente, apenas 11% foram destinados à adaptação, e uma fração ainda menor chegou aos governos subnacionais do sul global. Diante desse cenário, ele fez um chamado claro: mais agilidade no acesso a fundos, enfoque social e de gênero, e uma arquitetura financeira que contemple os desafios reais de cidades e províncias.

 

A conversa foi enriquecida com contribuições de referências-chave do ecossistema financeiro e climático regional. Pela CAF, Ignacio Lorenzo destacou a necessidade de ação imediata em um cenário de “realidade iminente” e o papel da CAF como “banco verde da América Latina”, que dobrou seu investimento verde em quatro anos, alcançando metas antes do previsto. Por sua vez, Lorena Chara, da AFD, ressaltou a guinada institucional rumo à aceleração climática, com ferramentas que priorizam o impacto social e climático, e experiências como a de Santa Fé que demonstram a viabilidade do financiamento sem garantia soberana.

 

Florencia Costantino, a partir da experiência da Agência Córdoba de Investimento e Financiamento, apresentou um marco inovador de financiamento vinculado à sustentabilidade. Esse modelo permite associar o desempenho de políticas públicas (como a redução de emissões ou o uso de energias limpas) a instrumentos do mercado de capitais, gerando rastreabilidade e condições atrativas para investidores institucionais. Trata-se de uma experiência concreta que poderia ser replicada em outras jurisdições.

 

O financiamento, no entanto, não é apenas uma questão de oferta disponível, mas também de demanda bem formulada. Foi o que apontou Adrián Cosentino, da Orson Capital, ao destacar que a Argentina conta com uma infraestrutura de mercado de capitais capaz de absorver investimentos sustentáveis, mas que muitas vezes falta articulação entre os atores públicos e privados para construir projetos viáveis. Martín Soto, da YINYANG Consulting, aprofundou essa ideia e afirmou que a chave está na formulação técnica: ter recursos não garante o acesso se não houver projetos com governança clara, temporalidade definida e capacidade de gerar impacto. Sua reflexão apontou para a necessidade de pensar em programas integradores que articulem áreas de governo e envolvam o setor privado.

 

Já no encerramento, Dan Ioschpe, Climate High-Level Champion da COP30, foi enfático ao afirmar que o financiamento não é apenas um componente da agenda climática, mas seu verdadeiro habilitador. Ele defendeu a equiparação da relevância da adaptação frente à mitigação, o uso de instrumentos como os títulos verdes e os créditos jurisdicionais, e a superação da retórica em favor de ações concretas.

 

A discussão continuou na sessão temática Ferramentas Financeiras para a Transformação Produtiva, coorganizada pelo ICLEI Argentina e a YINYANG Consulting. Nela, abordaram-se os desafios de canalizar financiamento inovador para projetos de economia circular, infraestrutura verde e transição energética, a partir de uma perspectiva eminentemente territorial. Participaram organismos multilaterais, bancos de desenvolvimento, agências de classificação de risco e representantes provinciais, em um debate que valorizou experiências concretas e novas oportunidades de articulação multissetorial.

 

Também participaram da conversa: Gonzalo Saglione, diretor executivo da Agência de Cooperação Econômica e Financiamento Externo da Província de Santa Fé; Evelyn Botasso, responsável pela área de projetos da Agência Córdoba de Investimento e Financiamento; Sebastian Tortorice, representante na Argentina do Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE); Martín Soto, sócio da YINYANG Consulting; David Tauss, responsável por projetos da AFD; Eliana Gomez Barreca, Diretora Associada e Analista de Crédito – Instituições Financeiras da Moody’s Local; Osvaldo Levis, gerente comercial do Bancor; Carolina Vera Moreira, Coordenadora Regional da COP30 do FONPLATA; e Dolores Almeida Sanchez, da GIZ.

 

A sessão foi moderada por Brenda Pietraccone, sócia da YINYANG Consulting, e Belén Alejandra Schiaffi, especialista em gestão de projetos da mesma consultora.

 

A mensagem da CCI25 foi clara: sem uma estratégia robusta de financiamento climático orientada ao nível subnacional, a transição justa será incompleta. Os governos locais não são beneficiários passivos, mas sim atores estratégicos capazes de liderar a ação climática a partir do território. Mas, para isso, precisam de ferramentas, capacitação, autonomia e acesso real aos recursos.

 

Desde o ICLEI, reafirmamos nosso compromisso em seguir impulsionando uma agenda de financiamento climático justa, acessível e eficaz para a América Latina, construída a partir das experiências locais e com uma visão estratégica rumo à COP30.

 

Você pode assistir à plenária neste link: https://conferenciaclimatica.cba.gov.ar/dia-2-es/


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