Entre os dias 19 e 21 de agosto, Curitiba recebeu a Conferência da Mata Atlântica – PRÉ-COP Biomas, reunindo governadores, prefeitos, secretários de Estado, lideranças nacionais e internacionais, além de representantes da sociedade civil e de organismos multilaterais. O evento consolidou a capital paranaense como palco de articulação em torno da ação climática, conservação da biodiversidade e fortalecimento da governança ambiental no Brasil, em preparação para a COP 30, que acontecerá em Belém, em 2025.
A cerimônia de abertura contou com a presença da Diretora Executiva da COP 30, representantes da ONU e da UNIDO, além da apresentação da Orquestra de Viola Caipira de Cascavel Bicho do Paraná.
Os debates da conferência começaram com a sessão “Contexto geral e perspectivas da COP 30 para a agenda de clima no Brasil – o papel da União, dos Estados e dos Municípios na governança climática nacional”, que abordou os desafios e oportunidades da COP 30 para o país. O painel destacou a importância da cooperação entre União, estados e municípios para transformar compromissos internacionais em políticas públicas efetivas e de impacto real no bioma Mata Atlântica. Entre os participantes estavam Bianca Brasil (ONU), Renato Casagrande (Governador do Espírito Santo), Rafael Greca (Secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável do Paraná), Eduardo Pimentel (Prefeito de Curitiba) e Rodrigo Perpétuo (Diretor Executivo ICLEI América do Sul), com moderação de Guilherme Syrkis (Centro Brasil no Clima – CBC).
O painel sobre Conservação da Biodiversidade discutiu estratégias prioritárias para conservar e restaurar a biodiversidade da Mata Atlântica, considerando mudanças climáticas, políticas públicas em andamento e experiências locais com potencial de replicabilidade. O debate reforçou a centralidade das áreas naturais e ativos ecológicos para a ação climática, a inclusão social e a promoção da justiça ambiental. Participaram Julie Messias (NBS Alliance, moderadora), Clóvis Borges (Grande Reserva Mata Atlântica), Guilherme Dias (DPMA), Malu Nunes (Fundação Boticário) e Rafael Andreguetto (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável – Sedest).
Na sessão Agricultura Sustentável e Soluções Baseadas na Natureza, os participantes debateram formas de conciliar produtividade agropecuária e conservação ambiental, com foco em práticas produtivas inovadoras, políticas públicas e instrumentos financeiros capazes de impulsionar a sustentabilidade do setor. Este painel contou com Leverci (moderador), Márcio Nunes (Secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento), Jay Amstel (PNUMA), Mariana Coelho (UNIDO) e Ricardo de Figueiredo (Net Zero).
O painel de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa discutiu oportunidades e desafios para a mitigação das emissões no contexto da Mata Atlântica, ressaltando a importância do bioma para as metas climáticas brasileiras rumo à COP 30. Participaram Fabiana Campos (moderadora), Victor Anequini (CBC), Rafaela Queiroz e Davi Bomtempo (CNI), Daniel Matos (ABCP), Diego Blanc (C40) e Ety Carneiro (Hospital Pequeno Príncipe).
A sessão de Adaptação às Mudanças Climáticas trouxe discussões sobre estratégias para fortalecer a resiliência socioambiental do bioma diante de eventos climáticos extremos, integrando ciência, saberes tradicionais e planejamento territorial. Participaram Paulo de Tarso (SIMEPAR), Marilza Dias (Secretária Municipal do Meio Ambiente de Curitiba), Axel Grael (engenheiro florestal e ex-prefeito de Niterói), Regiane Borsato (Instituto Life) e Maria Tereza Uille (sociologia e direito).
O painel sobre Instrumentos e Mecanismos de Financiamento e Fundos Climáticos discutiu estratégias para captação de recursos para projetos de conservação, adaptação e mitigação, incluindo linhas de crédito, fundos climáticos e mecanismos de mercado, com atenção especial à inclusão social e à justiça climática. Participaram Ana Zornig Jayme (moderadora, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), Fernando Campos (Sitawi), Marta Bandeira de Freitas (BNDES), Dayene Peixoto (Ministério do Planejamento) e Lisiane Astarita de Limas (BRDE).
Por fim, a sessão Justiça Climática e Governança promoveu reflexões sobre equidade, direitos humanos e governança institucional na agenda climática brasileira, destacando a necessidade de políticas inclusivas que protejam populações vulneráveis. Estiveram presentes Isabela Barbosa (ICLEI, moderadora), Mario Mantovani (ANAMA), Conselheiro Ivens Zschoerper Linhares (TCE-PR), Luiz Cláudio Romanelli (Assembleia Legislativa do Paraná), Romancil Gentil Cretã (APIB) e Dr. Daniel Pedro Lourenço (Ministério Público do Paraná).
A conferência concluiu com a apresentação da Carta de Curitiba, documento que consolida compromissos e diretrizes para a ação climática dos entes subnacionais brasileiros, alinhando-os aos objetivos da COP 30 e do Acordo de Paris.
Como parte da programação, também foi realizado o anúncio dos vencedores da chamada pública “Mutirão pelo Clima”, uma iniciativa do ICLEI América do Sul e da Prefeitura de Curitiba, com apoio da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável do Governo do Paraná. O objetivo foi identificar, valorizar e fortalecer projetos liderados por jovens voltados à adaptação às mudanças climáticas e à construção de resiliência nos territórios.
Inspirado pela segunda carta da Presidência da COP, o edital convidou coletivos juvenis e escolas de Curitiba a apresentarem ações que respondem aos impactos do clima em escala local. Essas iniciativas se destacam como exemplos de contribuições autodeterminadas, conceito que propõe ações voluntárias e complementares às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), conectando as metas globais à realidade dos territórios — especialmente às vivências e desafios enfrentados pelas juventudes.
O primeiro lugar ficou com o projeto Dizaterra, de Lígia Takau, que busca democratizar informações complexas sobre mudanças climáticas e impulsionar a conscientização comunitária para a prevenção de impactos. A iniciativa combate a desinformação que atrasa a ação climática e, em sua expansão, propõe que jovens de periferias de Curitiba e Região Metropolitana produzam jornalismo socioambiental comunitário, dando visibilidade a problemas como enchentes, secas e perda de biodiversidade, além de soluções locais que fortalecem a justiça climática e a resiliência territorial.
O segundo colocado foi o projeto Belahortinha, de Andréia de Lara Kogus, que une produção orgânica, compostagem e a criação de uma microárea de agrofloresta com quase 300 mudas, plantas medicinais e laguinhos que restauram a nascente e fortalecem a biodiversidade, proporcionando conforto térmico e acústico ao entorno.
Já o terceiro lugar ficou com o ManuPekena Biscuit, iniciativa de Mariana Triachini e Isabela Malinsky, que promove desenvolvimento sustentável ao capacitar mulheres, jovens e idosos em técnicas artesanais sustentáveis. O projeto reduz a pressão sobre práticas predatórias, gera renda, valoriza a cultura local e integra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), fortalecendo comunidades vulneráveis para enfrentar os desafios climáticos.
A Conferência da Mata Atlântica – PRÉ-COP Biomas foi uma realização do Governo do Paraná, da Prefeitura de Curitiba e do Consórcio Brasil Verde, com o apoio da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA), do ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, do Centro Brasil no Clima (CBC), do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (SIMEPAR), da Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), do Instituto Água e Terra e do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (COSUD).