Como construir cidades mais resilientes e sustentáveis até 2050?

Seminário Revisão 2050 discutiu como as empresas podem reorientar os seus negócios para que as cidades atendam as necessidades das pessoas sem esgotar os recursos do planeta.

10 de ago de 2020

Crédito: Getty Images iStockphoto

Como garantir que, até a metade do século 21, 228 milhões de pessoas vivam bem no Brasil respeitando os limites do planeta?

 

Essa é a frase de chamada para o Seminário Revisão 2050, uma das atividades implementadas pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), associação civil sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento sustentável por meio da articulação junto aos governos e a sociedade civil, além de divulgar os conceitos e práticas atuais sobre o tema. 

 

Pensando em construir um mundo onde o modelo de negócios atual crie alternativas mais sustentáveis e resilientes até 2050, o CEBDS lançou em 2012 a agenda a Visão 2050, que busca envolver os diversos públicos de relacionamento do setor empresarial na temática da sustentabilidade.  Oito anos após o lançamento da agenda, os membros envolvidos decidiram reavaliar as ações construídas e experimentar novas tendências que hoje fazem parte indissociável da temática. Assim surgiu o Seminário Revisão 2050, que guiará o Brasil em um caminho mais sustentável e resiliente nos próximos anos. 

 

A agenda adquiriu maior relevância com os desafios impostos pela pandemia da Covid-19 e realizou oito webinars em três meses. O último encontro da série aconteceu no dia 5 de agosto, e o tema tratado foi como as cidades podem contribuir para essas transformações acontecerem. 

O evento contou com a participação de atores do setor empresarial e Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI América do Sul.

 

Para Marina Grossi, presidente do CEBDS, em um cenário de pandemia, essa discussão é muito oportuna, porque agora todos precisam pensar em redirecionar recursos e em como transformar o país – e consequentemente as cidades – através de uma economia mais sustentável. “A previsão é de que tenhamos, até 2050, 85% da população morando em cidades, no Brasil, esse número já é de 86%. E ao mesmo tempo em que as cidades trazem oportunidades para a população, percebemos, durante a pandemia, que por conta do cenário de desigualdade social no Brasil não foi possível sequer fazer lockdown e cumprir as exigências de saúde.”

 

Grossi seguiu a sessão abordando com cada um dos presentes a questão de como as empresas podem reorientar os seus negócios para que as cidades atendam as necessidades das pessoas sem esgotar os recursos do planeta. 

 

CEO da Vedacit, Marcos Bicudo acredita que as cidades são reflexo de um mundo cada vez mais desigual e a crise causada pela Covid-19 deixou isso ainda mais evidente. “Sempre defendi que a iniciativa privada deve ser o grande protagonista desta reorientação geral precisamos de uma transição para um capitalismo que busque não apenas pensar em resultados, mas em gerar valor compartilhado, e no caso das cidades essa construção precisa ser em conjunto com as pessoas, porque as cidades são das pessoas e para as pessoas, por isso todos precisam se empoderar para construir juntos cidades mais sustentáveis.”

 

“Estamos passando por uma mudança bastante relevante no jeito de fazer negócio. A Toyota sempre foi reconhecida como uma empresa de automóveis e temos feito uma virada importante para ser uma empresa de mobilidade”, afirma Viviane Mansi, presidente da Fundação Toyota.

Para Mansi, essa mudança acontece fundamentalmente pelo novo estilo de vida que a população adotou nos últimos anos, seguindo essa tendência e pensando em um futuro mais sustentável, a Toyota tem como frente de atuação o Desafio Ambiental Toyota 2050, que conta com compromissos de mudança , entre eles o uso adequado de recursos, diminuição de CO² e uso inteligente da água. Algumas dessas ações já foram implementadas no Brasil: as quatro fábricas da empresa no país operam com fonte de energia 100% renovável, por exemplo.

 

A Fundação Toyota também dedica-se a temática de sustentabilidade, como por exemplo no projeto Apa Costa dos Corais no Nordeste, que protege uma ampla área de berçário de peixes e monitora a temperatura das águas para colaborar, no futuro, com melhorias para essa região. “Nós olhamos para esses projetos todos os dias e perguntamos se são suficientes, e cada vez mais precisamos dar transparência aos processos, abrir o diálogo e convidar novas pessoas para contribuírem com esse sistema.”

 

15 milhões de pessoas moram em favelas no Brasil, afirma Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (CUFA). “Quando esses lugares são observados, remetem-se a um cenário de tristeza, de tragédias e de violência, mas nunca de potência.” 

 

Para ele, esse estigma impede que seja feita a canalização de oportunidades, e isso interfere no olhar das empresas, do poder público e da própria percepção da população que vive nas favelas, a CUFA trabalha na perspectiva de construir pontes e formar lideranças para que as pessoas desses territórios sejam protagonistas nas agendas de mudanças e construção de espaços mais justos, resilientes e sustentáveis. 

 

Para Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI América do Sul, existem princípios fundamentais para reorientar os negócios das empresas frente a essa conjuntura tão desafiadora. O primeiro deles é a economia circular, que significa olhar para as cadeias produtivas, utilizando o poder de compra para buscar fornecedores que estejam próximos a critérios de sustentabilidade no processo de produção; o segundo são os processos de contratação, que segundo Perpétuo são um instrumento poderoso de inclusão social e diversidade. “As empresas podem e devem fazer a diferença na hora de contratar e possibilitar ambientes mais justos e inclusivos”. 

 

O terceiro são os investimentos. No Fórum Econômico Mundial, que aconteceu em janeiro deste ano, a questão climática foi pautada como um dos maiores riscos para a atividade empresarial no mundo contemporâneo. “Nesse contexto, todos temos o dever em pensar em 2050 e chegar lá com neutralidade de carbono. Por isso, o setor privado precisa ter consciência em relação às emissões, começar a mensurar e traçar metas para reduzi-las, além de ter critérios claros de produção mais sustentáveis e menos poluentes”, finaliza.

 

Saiba mais sobre a iniciativa Seminário Revisão 2050


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