Campinas 2030: os novos desafios da sustentabilidade no pós-pandemia

Seminário debateu a implementação de políticas públicas para a sustentabilidade na cidade.

02 de set de 2020

Crédito: Getty Images iStockphoto

O que se pode esperar do futuro de Campinas e região no pós-pandemia? O seminário Campinas 2030 levantou essa questão e indagou como o coronavírus impactou a implementação de políticas públicas para a sustentabilidade nas cidades, além  dos principais desafios para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes segundo as metas traçadas nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

 

De acordo com a Agência Envolverde, que organizou o seminário ao lado de outras entidades,  não é de hoje que a gestão pública enfrenta graves problemas para administrar as grandes metrópoles e construir cidades mais resilientes. A pandemia causada pelo coronavírus acentuou ainda mais essa questão, deixando o caminho para a criação de cidades mais sustentáveis mais difícil. 

 

O primeiro painel do seminário aconteceu no dia 27 de agosto, e o principal tema em questão foram as políticas públicas para sustentabilidade.

 

Para Luiz Fernando de Araújo Bueno, diretor de Sustentabilidade do CIESP Campinas, os desafios impostos para a implementação de políticas públicas voltadas para a criação de cidades sustentáveis já eram difíceis mesmo antes da pandemia, e agora se tornaram enormes.

 

“Um ponto relevante é que, durante a pandemia, nós ouvimos falar muito mais de sustentabilidade, porque nesse momento a parte financeira das empresas e dos governos foram envolvidas, e a sustentabilidade passou a ser vista como algo estratégico. Se você, sua empresa ou a sua cidade não falam sobre sustentabilidade, não vai atrair investimento de nenhum financiador. O coronavírus veio para nos mostrar uma nova realidade, e nessa nova realidade, a questão da sustentabilidade é muito mais importante”.

 

Representando a Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Campinas, Andrea Struchel afirma que o aumento populacional é uma questão que precisa ser observada. Hoje, são sete bilhões de pessoas habitando, consumindo e infelizmente poluindo o planeta. “No mundo, a tendência é que 70% da população migre das áreas rurais para as áreas urbanas. Dentro desse cenário crescem os desafios de infraestrutura e acesso a serviços, principalmente públicos, e como podemos fazer isso de forma sustentável?”, questiona Struchel. Ela citou a elaboração do inventário de emissões de gases de efeito estufa de Campinas como ponto de partida para a criação de  uma lei que estabelece as políticas para o enfrentamento à mudança do clima.

 

O ex-secretário do Verde de Campinas e ex-presidente nacional da ANAMMA, Rogério Menezes acredita ser necessário retomar as discussões sobre sustentabilidade e os acordos de cooperação internacional na agenda nacional brasileira. “Assim teremos a possibilidade de retorno de investimentos, que é uma questão crucial para o movimento de recuperação econômica pós-Covid 19”. 

 

Menezes afirma que a retomada dessas questões, alinhadas à vocação da área metropolitana de Campinas para a ciência, em parceria com as universidades locais, institutos de pesquisa e tecnologia, chamaram a atenção de investidores para o potencial econômico da região, contribuindo para o desenvolvimento econômico e incluindo perspectivas sustentáveis de médio e longo prazo. 

 

“O que Campinas tem feito é exemplar”, afirma Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI América do Sul. “O programa Reconecta RMC apoia o projeto INTERACT-Bio, do ICLEI,  e permite a elaboração de um mapa dos serviços ecossistêmicos que estão estressados na região. Ele nos deu uma perspectiva de onde há potencial para explorar os recursos de maneira sustentável e equilibrada”.

 

Perpétuo acredita que uma das consequências da pandemia foi a percepção das autoridades locais em relação às áreas verdes de suas regiões, enxergando o valor da biodiversidade, e a necessidade de olhar para esse ativo natural como algo a ser protegido e valorizado, e não como um custo a mais para a administração. “As cidades de 2030 não apenas reúnem as pessoas para produzir bens e serviços por um lado, e consumir esses bens e serviços por outro. Em 2030,  as cidades devem ser o lugar da convivência harmônica e fraterna entre os seus cidadãos.”

 

O presidente do Conselho do Instituto Ethos, Ricardo Young,  acredita que a definição do conceito de sustentabilidade é um desafio, porque o desenvolvimento sustentável é preservar os recursos para que as gerações futuras possam viver na mesma condição que as gerações presentes. “Não é só uma questão de pensar nas gerações futuras, e sim manejar os recursos presentes de forma que possam satisfazer as gerações futuras, numa condição no mínimo igual, pensando que elas serão mais numerosas e mais demandantes.”

 

Para Young, os prefeitos e candidatos precisarão lidar com o tema de sustentabilidade para além do que é conhecido hoje, além de se apropriarem da política da sustentabilidade. “Hoje o desafio é ter uma gestão política que lide com o pensamento complexo do que é a  sustentabilidade, a política precisa se apropriar dessa agenda com a competência técnica  necessária, e não com o discurso conveniente”, finaliza.

Saiba mais sobre o Seminário 2030.